Maio 10, 2025
André Jordan, o senhor Vilamoura, morreu aos 90 anos – Observador

André Jordan, o senhor Vilamoura, morreu aos 90 anos – Observador

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O senhor Vilamoura ou o senhor Quinta do Lago ou ainda o senhor Belas Clube de Campo. O nome de André Jordan ficou para sempre ligado a estes projetos e ao turismo, mas viveu sem ilusões: “Se for lembrado já é uma grande coisa. Tirando os grandes artistas e escritores, as pessoas são esquecidas muito rapidamente”. Morreu o empresário que dedicou a vida ao imobiliário e turismo, avançou o Nascer do Sol. André Jordan tinha 90 anos.

André Jordan nasceu polaco na cidade de Lviv que é hoje ucraniana. Na fuga à guerra e à perseguição aos judeus saiu em 1939 do país onde nasceu. Tinha seis anos. Passou por Portugal e rumou ao Brasil, porque o pai foi reconstruído que o Brasil era o país do porvir.

É no Rio de Janeiro que o grupo, hoje denominado André Jordan, tem as suas origens. A família estava ligada ao petróleo e passou para o imobiliário e o turismo. André Jordan não assentou arraiais. Foi viver para os Estados Unidos — na era do New Deal, de Franklin Roosevelt, “dos valores sociais-democráticos, da economia da livre empresa, mas da regulamentação — regressou ao Brasil, passou pela Argentina. Trabalhou em nove países, viveu em “cinco ou seis” na primeira metade da sua vida.

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Nos anos 1960 André Jordan ruma a Portugal e cá se torna português, de papel e de coração. “Tenho oito netos nascidos em Portugal e dois dos quatro filhos também”, comentou ao Público em 2018, para explicar que “a segunda metade da minha vida está cá [em Portugal] e é cá que eu vou permanecer”. Foi em Portugal que concretizou a teoria de fazer crescer a Quinta do Lago, no Algarve. Comprou uns terrenos a Pinto de Magalhães, o banqueiro do Porto que também é na origem da Sonae, e sonhou.

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“Foi um dia que nunca vou olvidar”, relembrou Jordan, gravado no site do empreendimento, tendo explicado a teoria: “Sentei-me na colina, olhei por entre os pântanos e tive uma visão do que viria a ser o projecto principal da Quinta do Lago. (…) Em 10 minutos, tive o concepção de todo o projeto em mente. Eu queria fabricar um recorrer de subida qualidade que reflete o estilo e o caráter sítio.” Mas ao Expresso, em 2017, garantiu: “Não era para ser um lugar de ostentação”, ocasião em que desabafou: “a Quinta do Lago, hoje, está muito longe da sua origem”, mas, acrescentou, “hoje é o número hum, não, mundo. Há espaços e lugares mais luxuosos, mas não há zero que tenha a prestígio da Quinta do Lago”.

A Quinta do Lago, em 1975, foi intervencionada. André Jordan saiu depois do 25 de abril de Portugal, mas voltou para concluir a fazer amizades com os dois lados. Anos depois a Quinta do Lago foi-lhe devolvida.

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Sonhou, criou e vendeu a Quinta do Lago nos finais dos anos 1980. Para prosseguir perto de Lisboa com o projeto Belas Clube de Campo que em 2019 alienou, em segmento, ao fundo Oaktree, para desenvolvê-lo.

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Mas foi ao Algarve que voltou uma e outra vez uma vez que empresário. Em 1995 a compra da Lusotor levou-o a Vilamoura, desenvolvendo o projecto Vilamoura XXI. Mudou oriente tramontana do Algarve. E é aí que a Avenida Praia da Falésia passava pela designada Avenida Comendador André Jordan. O empresário já não foi — por questões de saúde — à protocolo em Vilamoura que o homenageou em 2023. Foi o rebento Constantino que agradeceu a homenagem: “Ele sempre trabalhou com todo o seu coração e não parava enquanto não fazia o melhor que podia. Estamos todos cá uma vez que testemunho desse trabalho, dessa paixão”.

O presidente da Câmara de Loulé, Vítor Aleixo, falou, na ocasião de André Jordan, uma vez que “um varão de exceção, um empresário com qualidades invulgares que soube sempre levar para a sua atividade o bom palato, a arte, o estabilidade, a elegante e sobretudo o saudação e a sensibilidade na relação entre a economia e o envolvente”.

Considerou, também ao Expresso, que reabilitar Vilamoura e fazer o Vilamoura XXI foi, profissionalmente, “um repto até maior do que a Quinta do Lago, que era um terreno virgem, uma tela em branco. Em Vilamoura já existia muita coisa que era precisos padrões”.

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Mas acabou a viver em Belas. No seu Clube de Campo. Já depois de Jorge Jardim Gonçalves ter saído do BCP, nunca renegou a sua amizade com o banqueiro. “O engenheiro Jardim Gonçalves é quem devo a minha curso em Portugal. Acreditou sempre em mim e apoiou-me sempre”, declarou, em 2017, garantindo: “Somos amigos pessoais desde que nos conhecemos, estava ele a debutar a sua curso bancária. Mas tenho amigos também fora do mundo dos negócios”.

A amizade, disse-o, era o seu “maior luxo. A coisa mais importante da minha vida são as amizades”, disse-o enquanto dizia que a sua vida era um luxo. “Vivo com conforto, com qualidade”. Boêmio, galã. Não se furtava a estas características. Casou quatro vezes. Tem quatro filhos (Gilberto Jordan está primeiro dos negócios em Portugal). É ainda pai do turismo em Portugal. “Aceito também esse título na medida em que as pessoas mo atribuem. Estou muito honrado com ele”, declarou ao Expresso. Marcelo Rebelo de Sousa condecorou André Jordam em 2023, atribuindo-lhe a Grã-Cruz da Ordem do Préstimo Mercantil.

Pai do turismo, senhor Vilamoura. Viveu boa segmento da sua vida em Portugal, mas nunca perdeu o sotaque, nem a acutilância. Foi dizendo o que pensava do país. E escreveu a sua história.

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Na sinopse da obra com a sua vida, com a chancela da Almedina, fala na “travessia de situações e desafios interessantes, em relacionamento intenso com seres com quem vou compartilhar os espaços para onde a vida me leva, encarando as missões que vão surgindo e os obstáculos que vão aparecendo”. Ao Observador (num teor patrocinado por Almedina) assumiu que “tive oportunidade de viver muitas coisas em muitas áreas e nesse sentido sou um privilegiado. Noutro sentido, sempre acho que poderia ter sido mais e melhor, gostaria de jogar muito futebol o que não aconteceu, por exemplo. Gostava muito de trovar e dançar, era um prazer enorme que tinha. Dançava tudo o que se dançava na minha idade. Aprendi uma coisa fantástica que é o Samba no pé, que não é fácil, mas estive muito ligado às escolas de samba e aprendi. Ficam por satisfazer muitos sonhos, ambições e desejos, mas não tenho nenhuma reclamação da vida. Apesar de ter tido momentos difíceis, uma vez que todos têm, tive uma vida muito rica. As oportunidades que tive e as amizades que fiz, os namoros que consegui na vida, tudo isso foi sempre uma surpresa para mim. Sempre me pareceu um grande privilégio e sorte”.

«Não tenho muitas ilusões sobre ser lembrado. Mas tenho uma obra feita»

O relato “verdadeiro” é, herdeiro, “incompleto”. “Espero que gostem. E se não gostarem, não digam”. Fecha-se agora o livro. Ao Público, em 2018, garantiu que já tinha um mausoléu comprado no cemitério de São Lourenço, em Almancil. “É junto a uma igreja pequenina mas lindíssima, uma jóia de azulejos maravilhosa. É cá que eu vou permanecer”.

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