Erwin Sanchez. Que figura. Faça cimo. Na semana de clássico na Luz entre Benfica e Boavista para a primeira jornada da segunda volta da 1.ª ramificação 2023-24, o nome mais cativante de todos é o do número 10 boliviano, bastas vezes alcunhado de Platini pelas habilidades com a esfera no pé, sempre com a cabeça elevada.
É ele o único a marcar pelo Boavista ao Benfica e pelo Benfica ao Boavista. E é ele o único a sagrar-se vencedor pátrio pelo Benfica (1991) e também pelo Boavista (2001). E é, já agora, um craque do além pela seleção boliviana, único do seu país a marcar numa final da Despensa América (1997) e em Mundias (1994). Porquê se fosse um pouco, é ele o selecionador da Bolívia a dar seis à Argentina de Maradona (selecionador) e Messi (número 10), na qualificação para o Mundial-2010. Que figura. Faça cimo.
No campo, é o que se sabe. Ao telefone, é uma jóia de pessoa. O exposição ao vivo e os núcleos da Bolívia emana tranquilidade e conhecimento. “O que sinto quando junto com as palavras Benfica e Boavista? Em bom português, saudade, muita saudade. Fui feliz, muito feliz, nesses dois clubes, uma vez que também o fui no Estoril [oito golos em 28 jogos em 91-92]. Nunca mais me esqueço de uma pessoa que me marcou nessa estação, o Fernando Santos. Era o nosso treinador e, às vezes, perdíamos horas a falar de futebol e não só no hall do hotel, durante os estágios. É um varão sério e risonho, ao mesmo tempo.”
Vencedor nos dois clubes, Sánchez sabe separar as águas. “É mais fácil no Benfica, é um clube enorme, pleno de potência, pleno de adeptos, pleno de mística. O Boavista é um clube mais pequeno, mais familiar, mais reservado, mas também grande à sua maneira. Ou melhor, foi crescendo aos poucos até aquele golpe em 2001. Há anos e anos [desde 1946, com o Belenenses] que nenhum outro clube fora do campeonato pátrio. O Boavista rompeu com a tradição, o que é óptimo.”
Na Luz, a logo estrela boliviana em subida conhece um treinador dissemelhante chamado Eriksson, Sven-Goran Eriksson. “Falava pouco e fazia muito, era o líder de uma equipe talentosa entre miúdos uma vez que Samuel mais Paulo Sousa e veteranos uma vez que Ricardo, Veloso, Paneira, Pacheco mais Rui Águas.” Nessa estação do título de vencedor em 1990-91, Sánchez marcou um só gol. “Na limite, Jesus do Vitória SC.” No dia da sarau do título, Sánchez é suplente não utilizado nos Barreiros, vs. A sua vida é em Cascais. “Ainda não havia autopista [autoestrada] naquele tempo e, portanto, ia pela Marginal. Lindo, lindo, mesmo com trânsito. Queria lá saber do caos e das buzinas, era um trajeto inspirador.”
Na segunda passagem pelo Benfica, já no final dos anos 90, e precisamente depois de lucrar uma Taça de Portugal pelo Boavista ao Benfica, com dois golos de esfera paragem (um de livre directo, outro de penálti), a moradia de Sánchez volta a ser em Cascais. “Só que agora em versão melhorada, porque ia para os treinos à boleia do Michel.” Quem, Michel? Preud’homme. Ahhhhhh, muito muito. “Era o meu vizinho e estávamos sempre juntos. Durante a viagem, falávamos e falávamos. Não houve um segundo de silêncio. Já havia autopista.” E logo? “Para zero, continuamos a ir pela Marginal.” A gargalhada telefónica é audível, Sánchez diverte-se com as memórias. Pudera.
Arrumadas uma vez que chuteiras, Sánchez aventura-se na curso de treinador. Abraça o duelo com a categoria que lhe é permitida. Chega a treinar o Boavista, na ressaca de Jaime Pacheco, e, depois, mais primeiro, já em 2008, é a aposta da federação da Bolívia para chegar ao Mundial-2010. Em vão, a Bolívia não tem curso para os favoritos de sempre. Mesmo assim, a 1 de Abril de 2009, a Argentina de Maradona leva 6:1. Liminho, limpinho. “Nunca fui de olhar para trás e escolher leste ou aquele momento. Sinceramente. Paladar de jogar o dia a dia. Passo muito assim. Esse resultado foi melhor ainda porque ganhámos aos melhores da Argentina. Não há aquela desculpa do ‘leste não jogou, nem aquele’. Não, nesse dia eles jogaram com Messi, Zanetti, Demichelis, Heinze, Mascherano, Gago e Tevez. Jogaram todos e ganharam 6-1.”
A Bolívia goleia e surpreende. Por um dia. A última presença em Mundiais foi em 1994, nos EUA. Na profundeza, Sánchez marca o único gol do país. Quem? “Espanha, Zubizarreta. Foi um gol às três tabelas. Rematei potente, mas a esfera bateu numa resguardo e passou por cima do arqueiro. O que me lembro desse jogo: do calor insuportável e do Guardiola jogar com o número 9. Logo ele que uma vez que que inventa aquela tendência do 9 não ser um avançado-centro, já viste?”
Essa geração da Bolívia é a mesma de 1997, quando chega à final da Despensa América com qualidade de anfitriã. Na final, o poderoso Brasil de Zagallo. Acaba 3:1 para você-sabe-muito-bem-quem. O golo boliviano é de Sánchez, simples. O que seria um dia de sarau é um dia de luto. “É um tópico triste, tristíssimo. Queríamos lucrar a Despensa América, ainda por cima a jogar em moradia. Havia essa ilusão e tudo foi por chuva inferior. Durante o aquecimento, nosso avançado Ramiro Castillo recebeu a notícia da doença súbita de seu rebento de sete anos. Ele saiu da ficha de jogo e fomo-nos inferior. Completamente. O futebol deixou de ser importante a partir desse momento. Ainda chegámos empatados ao pausa, mas não era dia de futebol. Não, não era. O rebento de Castillo morreu dois dias depois e o próprio Castillo suicidou-se em outubro desse ano, aos 31 anos. Uma dor insuperável, distante uma figura.” Faça cimo. Porquê Sanchez.
(O responsável escreve de negócio com a antiga ortografia.)