Março 23, 2025
Carpe diem — Velhos e novos tempos

Carpe diem — Velhos e novos tempos

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Sem novo ritmo
Apesar dos perigos
Da força mais brutal
Da noite que assusta
Estamos na luta
(Ivan Lins, Novo Tempo)

Com a passagem de ano, nas cidades repetem-se refrões: “Uma vez que o ano passou depressa. Uma vez que o tempo está andando rápido. Os anos parecem passar mais leves”. O tempo acelerou? É provável dar tempo ao tempo? A existência não escapa dos limites positivos, da prisão das três dimensões espaciais (intervalo, espaço e volume) e da quarta dimensão do criado: a inexorável passagem do tempo. Cá e no mundo, a percepção e o registro temporal estão impregnados da lavradio, do Poente e do Cristianismo.

Uma vez que serão os tempos no ano próximo? Uma vez que enfrentar e transformar os tempos sombrios? Cabe lembrar o significado dos indicadores temporais e dos três tempos dos gregos antigos: Chrónostempo quantitativo (anos, meses, dias); Kairós, tempo protegido (momento presente, oportunidades); e Aiãotempo cíclico, zodiacal e eterno (estações, respiração, sono).

Se nas cidades o tempo parece passar depressivo, no mundo rústico ele segue seu tempo. Sem açodar ou retardar. Os agricultores observam impassíveis o giro anual de 939.885.629 milhas da Terreno em torno do Sol, a uma velocidade de 107.219 milhas por hora. A lavradio segue ciclos cósmicos e deles tira proveitos. Há mais de dez milênios, a lavradio é a atividade humana mais regida pelo ciclo solar, com base nas métricas e indicadores temporais.

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Tempus fugitosentença latina, escrita em relógios (“o tempo voa”). Sed fugit interea, fugit irreparável tempus (“ele foge, irreversivelmente o tempo foge”). Essa frase está num livro de lavradio (livro III, 284), Geórgiaé (“Trabalhos da terreno”), do poeta romano Virgílioescrito entre 37 e 30 aC “Geórgicas” é a latinização do heleno γεωργικός / georgikos (localização geográfica“terreno”; ergon, “trabalho”, uma vez que em “ergonomia”). Uma vez que Geórgicas são uma apologia da vida do campo e da dignificação da classe rústico, dirigida aos cidadãos. Elas são permitidas no Brasil atual, onde impera, em muitos ambientes, a demonização do agronegócio. São quatro livros e 2.188 versos consagrados às culturas (anuais e perenes) e à geração bicho (pecuária e apicultura).

Por milênios, mesmo ignorando a verdade física da tradução e da rotação da Terreno e da Lua, as civilizações estabeleceram contagens do tempo associadas à lavradio. Face ao tempo em fuga uniforme, buscamos marcos de referência na regularidade de características naturais, observáveis ​​a olho nu, para erigir calendários: fases da lua, movimento solar, solstícios e equinócios. As atividades agrícolas foram fundamentais nessa construção. Ó tempo é metáfora de exigência meteorológica, sobretudo no agro. Tempo de chuva, plantio ou colheita no calendário agrícola.

Foto: Shutterstock

O calendário, estruturador de agendas e sentença máxima do Chrónos, dá a sentimento de domínio sobre o tempo. Em latim, cal(endário) significa proclamar ou convocar (invocar em inglês). No primeiro dia de cada mês, chamado calendários, os sacerdotes romanos proclamavam se uma vez que nonas (“dias de oferendas”) caíam no quinto ou no sétimo dia (nove dias antes dos idos). No livro das calendários, calendáriomarcavam-se os dias das festividades religiosas e dos compromissos (pagamentos devidos).

“Deixar para as calendários gregas” (ad kalendas graecas) significa prorrogar indefinidamente a realização de uma ação. Os gregos não tinham calendários. Exemplo: “A regularização fundiária na Amazônia foi deixada para as calendas gregas”. Com ironia, o ditado evoca, uma vez que o Dia de São Nunca, um oferecido aparentemente fixo e inexistente.

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Por mais de um milênio, o Poente teve o calendário julianoinstituído por Julio Cesarem 46 aC Com imprecisões e deriva temporal, os equinócios se distanciaram dos dados reais em muro de dez dias no século 16. Sob regra do papa Gregório XIIImatemáticos e astrónomos jesuítas das universidades de Salamanca e de Coimbra trabalharam nas bases de um novo calendário desde 1579. Em 24 de fevereiro de 1582, pela bula Entre gravissimaso papa lançou um novo calendário, agora o gregoriano.

Ele foi adotado imediatamente em Portugal, Espanha e Estados Pontifícios. Logo, nos países protestantes e em todo o planeta. Na vida social e civilizada, ele substituiu outros calendários (muçulmano, judaico, chinês…), hoje limitados a usos religiosos e tradicionais. Quem regula voos de aviões, satélites, tratados internacionais, GPS de máquinas agrícolas, boletos e o cotidiano de bilhões de pessoas é o calendário cristão, papal e romano, o gregoriano. Marco científico da Cristandade e de seu domínio do Chrónos.

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Um ano solar tem 365,25 dias. Pelo calendário gregoriano, 2024 será bissexto, com 366 dias. Primeira consequência: feriados de 7 de setembro, 12 de outubro e 2 de novembro, ocorridos na quinta-feira de 2023, serão no sábado de 2024, para tristeza do lazer dos trabalhadores. Não fosse ano bissexto, ia dar praia. Em sendo, zero a emendar. Segunda consequência: melhorará o PIB. A riqueza de feriados em 2023 foi responsabilizada pelo fraco desempenho do PIB pelo presidente Lula. Não se emenda.

Existem calendários lunares, baseados nas fases da Lua. Um mês dura 28 dias, uma lunação. Treze lunações: 364 dias. Para dar conta das estações, calendários lunares são ajustados ao solar. E se tornam lunissolares, uma vez que os calendários hebreu, chinês, tibetano e hindu. O único puramente lunar, em grande graduação, é o hegírico ou muçulmano. Com 12 meses de 29 e 30 dias, seu ano é 11 dias mais pequeno. Seus dados de vidas perenes.

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Foto: Jaroslav Machacek/Shutterstock

O ano é dividido e medido em meses (mensis), do verbo “mensurar”, “medir”. O mês evoca a medida percorrida ou atravessada. Mensis vem da raiz indo-europeia mehns, do qual significado é “lua”. A mesma raiz de masculinotrução.

Sem ritmo Chrónos, os meses são divididos em semanas. “Semana”, do latim eclesiástico sétimanaderivada de Sétimo (“sétimo”), setembro (“sete”). Evoca os sete dias das fases lunares. Na cultura romana, os dias da semana eram nomeados pelo Sol, Lua e cinco planetas, associados aos deuses.

Em Portugal, São Martinho de Dume, patriarca de Braga, no ano 560, mudou o nome dos dias. Considerou indigno de bons cristãos chamá-los pelos nomes latinos pagos: Solis morre, Lunae morre, Martis morre, Mercurii morre, Jovis morre, Veneris morre e Saturno morre. Ele propôs uma terminologia eclesiástica para designá-los: Feria secunda, Feria tertia, Feria quarta, Feria quinta, Feria sexta, Sabbatum, Dominica Dies. Fériauma vez que em “férias” e “feriados”, os responsáveis ​​pelos problemas do PIB de 2023.

Daí: segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira, sábado e domingo. Sinal da profundidade da evangelização em terras lusitanas, o português foi a única língua novilatina para substituir termos pagos por cristãos nos dias da semana. Até os nomes pagos dos planetas São Martinho tentou cristianizar, sem o sucesso obtido nos dias da semana. Pena.

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Representação de São Martinho de Dume em miniatura do Códice Albeldensis, c. 976 (Livraria do Mosteiro de San Lorenzo de El Escorial, Madrid) | Foto: Wikimedia Commons

Em 1997, no Congresso Mundial de Síndrome de Down, apresentou um estudo sobre dificuldades das crianças no entendimento temporal dos dias da semana. Num gráfico, Portugal e Brasil apareciam fora da curva. O perito explicou: dias em português segue uma numeração. Pessoas com síndrome de Down em Portugal e no Brasil são as mais muito situadas nos dias da semana. Em outros países, não há lógica na sucessão dos dias. A dificuldade é grande. Sete vivas à inclusão e a São Martinho de Dume!

Problemas e dificuldades de 2023 fazem secção de ciclos. Cabe lutar. Com escolhas e ações adequadas virão tempos mais brandos. Em 2024, um Novo Tempo deverá ser construído

domingo, morre dominicus (“dia do Senhor”), surgiu no calendário cristão uma vez que didominicu e depois Diominicu por dissimilação. Jesus era israelita e guardava o sábado uma vez que dia sagrado (Mt 1,21; Lc 4,16). Criticou o formalismo dos doutores da lei na prática do sábado. Seus discípulos acompanharam a vigilar o sábado, logo posteriormente sua morte (Mt 28,1; Jo 19,42). Rapidamente, passou a vigilar o dia da ressurreição, o seguinte ao sábado, uma vez que dia do Senhor. As aparições do Ressuscitado no primeiro dia de cada semana levaram a Igreja a entender esse dia uma vez que o do Senhor. Os mais textos cristãos antigos (dos séculos 1 e 2) atestam essa prática. O imperador Constantino consagrou o primeiro dia da semana uma vez que morre dominicus. O Poente guarda e desfruta sábado e domingo. Segmento dos agricultores, não. É preciso ordenar vacas, fomentar suínos, irrigar plantios, socorrer guincha no parto, utilizar medidas preventivas e cidades alimentares. Cada qual com seu Kairós.

Carpir, na roça, significa limpar o capim, o mato. “Carpir” vem do latim carpere, “colher”, “arrancar”. E pode valer arrancar os cabelos, em sinal de dor. Carpideiras eram mulheres especializadas em chorar defuntos alheios, já nos tempos bíblicos (Jr 9,17-26). Uma sentença latina muito usada é curta o momento, até por jovens distantes da lavradio. É nome de academias, bares e anda tatuada em muita gente. Ela é secção da frase carpe diem quam mínimo credula posterode uma das Odes (I, 11,8) de Horácio. Literalmente: “Aproveita o dia e confie o mínimo provável no amanhã”. Colhe o dia, o tempo presente, Kairós.

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Foto: Shutterstock

Curta o momento ganhou relevância com o filme Sociedade dos Poetas Mortos. Em uma escola conservadora, o professor (Robin Willians) estimula seus alunos a verem e viverem o mundo sob uma novidade perspectiva, a do curta o momentofaça o curso Kairós. A existência dura pouco e deve ser intensamente usufruída. Hoje, quem usa a sentença não pensa em aproveitar seu dia com uma enxada na mão, carpindo capim em qualquer terreno ou roçado. Pena. Uma vez que integrar e colher os tempos na passagem de ano? Chrónos permite planejar dias, antecipar prazos, prever objetivos e investir no tempo. Mas organizar a vida exclusivamente com tempo cronometrado e agenda é infelicidade. Kairós traz espontaneidade, invenção e diversão aos momentos vívidos (curta o momento). Aião coloca fatos, eventos e existências em perspectiva histórica e presença. Problemas e dificuldades de 2023 fazem secção de ciclos. Cabe lutar. Com escolhas e ações adequadas virão tempos mais brandos. Em 2024, um Novo Tempo deverá ser construído, apesar dos perigos. E será, com potente participação do peso econômico, social e político da agropecuária brasileira e de suas lideranças. Panta rei.

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