Março 23, 2025
De Angola para Portugal e Espanha: peças de marfim regressam à origem

De Angola para Portugal e Espanha: peças de marfim regressam à origem

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Dezenas de peças de marfim produzidas em Angola, que foram recolhidas por um português e se localizaram num convento espanhol, regressaram ao país de origem, sendo agora protagonistas de uma exposição sobre a reembolso dos bens culturais.

Embora não se conheça todos os detalhes da viagem destes artefactos, sabe-se que foram recolhidos no século pretérito por uma missão portuguesa que viveu vários anos na região de Cabinda e os levou consigo quando regressou a Portugal.

Os acompanharam o religioso salesiano quando leste cumpriu uma novidade missão em Espanha, tendo as madres espanholas que receberam a “legado” posteriormente a sua morte encetada contactaram com as autoridades angolanas em Portugal para fazer a reembolso das peças, cuja origem “não sabem definir com precisão, a não ser que sejam provenientes de Angola”, segundo a diretora universal do Registro Vernáculo de Angola, Constança Ceita.

A exposição patente no Registro Vernáculo de Angola até 17 de janeiro inclui peças decorativas e de uso ritual, adornos pessoais e instrumentos musicais esculpidos em marfim, um material que chegou a ser considerado o “ouro branco” de Angola e que além de estética e funcionalidade carrega também uma simbologia importante, porquê explicado à Lusa.

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“Até hoje são usados ​​pelas populações, não unicamente porquê objetos de adorno ou mobiliário, mas fundamentalmente no contexto da cosmogonia africana, angolana”, realçou a historiadora, destacando que o marfim atrapalhou também as rotas transatlânticas do negócio de escravos.

A académica mencionou ainda a relação entre as chefias políticas africanas e os europeus através deste material tirado das presas dos elefantes que passou a integrar símbolos de cristandade, desenvolvendo “afinidades profundas” através dos cruzamentos entre culturas europeias e africanas.

“O símbolo mais potente são os crucifixos e os santos de proteção que passaram a fazer secção da veneração aos espíritos dos ascendentes”, afirmou.

A mostra “O volta do marfim: por uma política de recuperação das obras de arte em Angola”, inclui algumas coleções de objetos dos séculos XIX e XX que desvendam aos angolanos secção da sua história, retratando, por exemplo, os ciclos de vida das população.

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“É extremamente importante porque temos de munir a sociedade do conhecimento dos seus bens, da sua cultura”, um multíplice unitário que compreende património material e intocável, formas de agir e de pensar.

Para Constança Ceita, é preciso que uma sociedade angolana reconheça e se identifique com os seus bens culturais, essenciais para a valorização da história identitária do país e de culturas “ainda vivas”, muito porquê para o conhecimento histórico, social, político e parcimonioso.

É também importante saber o processo de relações entre angolanos e portugueses, que se deu fundamentalmente num contexto de troca de bens culturais, acrescentou.

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A exposição é apresentada essencialmente por objectos de origem nos antigos estados de Luhango, pertencentes a grandes grupos etnolinguísticos das regiões setentrião e noroeste de Angola nomeadamente Ngoyo, Vili, Cacongo e Yombe.

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Entre estas destacam-se peças porquê o Ngudi, uma espécie de trompete usada em rituais de entronização e cerimónias de puberdade, entre outras.

Outros exibem, esculpidos nas presas de elefantes, elementos da vida cotidiana, fauna e flora angolanas, atos de veneração e doutrinado aos ascendentes, interligando o sagrado e o temporal da cosmogonia dos bantos, um vasto grupo etnolinguístico africano do qual são originárias muitas etnias angolanas.

Muitos foram coletados no contextura de “campanhas etnográficas” promovidas por missões porquê foi o caso.

“Os missionários jesuítas salesianos tiveram uma tarefa árdua no contexto da recolha destes bens culturais”, constança Constança Ceita, lembrando que durante as grandes viagens de exploração à África Medial, viajantes, curiosos, cronistas, missionários e comerciantes se relacionaram com o marfim, até que o elefante se tornou uma espécie rara.

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Os soberanos africanos fizeram trocas ou ofertas destas peças preciosas aos europeus com quem contactaram, atraídos pela raridade e venustidade do marfim, e os artefactos acabaram por rodear e encruzar o Atlântico.

O técnico salienta que A recuperação dos bens culturais “é uma preocupação do Estado Angolano” que tem vindo a desencadear políticas nesse domínio.

“Tem sido um esforço diplomático entre os Estados (…) no contexto de negociações para que esses bens sejam repostos, seguindo também as recomendações da UNESCO“, referiu.

A responsável do Registro Vernáculo de Angola adiantou que há peças identificadas em Portugal, em Espanha e em França, mas ainda “não estão tratadas”já que decorrem processos de negociação com os seus detentores, particulares e instituições, escusando-se a revelar mais detalhes.

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“Mas as pessoas estão muito disponíveis em ceder, há doações que estão a ser feitas espontaneamente, tem sorte de uma boa política nesta período”, garantiu, salientando que não tem encontrado entraves do lado português, com as negociações “a passar a bom ritmo” .

Com Lusa

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