Março 22, 2025
E, inesperadamente e cabalmente, Sascha Zverev esvaziou Carlitos Alcaraz

E, inesperadamente e cabalmente, Sascha Zverev esvaziou Carlitos Alcaraz

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O arsenal técnico de Carlos Alcaraz é tão vasto que por vezes parece que exclusivamente o físico pode tramar o espanhol – ou alguém de carapaça tão dura quanto Novak Djokovic. É vasqueiro vê-lo sem soluções, ele que tem aos trambolhões, talvez mais do que qualquer tenista que tenhamos visto até hoje, e vasqueiro é vê-lo sem um sorriso. Mas nos quartos de final do Open da Austrália, frente a Alexander Zverev, o espanhol foi esvaziado do seu talento, inesperadamente, porque o teutónico não pareceu, ao longo dos últimos dias, o varão com mais capacidade para o fazer nesta quinzena australiana.

Mas a espetacularidade do jogo do espanhol, a sua coragem nos momentos mais cortantes, a versatilidade de pancadas, só apareceu de forma intermitente e de intermitências não se faz um vencedor de um torneio do Grand Slam. Nos dois primeiros sets, Zverev foi infinitamente mais sólido, Alcaraz surgiu incaracteristicamente em dissonância com o seu enorme e indiscutível jeito para a coisa e exclusivamente no final do terceiro set e ulterior tie-break atinou, para logo a seguir voltar a desabar numa espécie de teia de aranha desenhada pelo dia perfeito de Zverev, que acabou por vencer por 6-1, 6-3, 6-7(2) e 6-4, na sua primeira vitória num torneio principal frente a um top 5.

A quebra de saque infligida por Zverev a Alcaraz logo no primeiro jogo de serviço do espanhol não seria exclusivamente um pequeno percalço, mas sim a tónica do encontro. O primeiro conjunto é mesmo de privação do espanhol, que disparou 11 erros e, pior ainda, exclusivamente dois vencedores, ele que tem a capacidade de os inventar de qualquer maneira e feitio. Quando essa máquina de fazer vencedores não está oleada, o jogo de Alcaraz sofre: lucrar jogando mal não é um tanto a que o espanhol está muito habituado. A punir toda e qualquer esfera menos incisiva do murciano, Zverev voou no primeiro set, que fechou com um ás, uma vez que quem assina com enunciação uma superioridade que era tão surpreendente quanto evidente e que se manteria no 2.º parcial, mesmo que Alcaraz tenha levantado, finalmente, o olho.

MARTIN MANTENHA

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Mas aos fios de ouro que se bamboleavam graciosamente no pescoço do teutónico, Alcaraz não conseguia responder com alquimia análoga. Os amortizações saímos anormalmente curtos (ou longos demais), uma vez que subidas à rede normal inusitadas. Alcaraz parecia com pressa. Demasiada pressa. Zverev, por sua vez, beijava com as suas pancadas fundas todas as linhas, aproveitava todo o campo que lhe era oferecido. Os pontos longos, que deveriam ser feudos espanhóis, também lhe sorriram.

Só ao 3.º set surgiu alguma dessa fantasia que rebenta nas mãos do espanhol, que se viu a perder por 5-2, mas, emulando o seu Deeper Nadal, devolveu uma multa a Zverev quando o teutónico serviu para fechar o encontro. Nesse momento parecia que finalmente se alinhava o mantra do jogador de El Palmar, exclusivamente 20 anos ainda, cabeça, coração e olhos, dizia-lhe o seu avô, e Alcaraz tem-nos de sobra. O tie-break foi um festival de passesesquerdas dentro em e demais estranhamentos em forma de pancada. E o jogo parecia estar pronto para virar.

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Só que Sascha poderia vender o espetáculo, até esvaziar de novo um balão que Alcaraz ameaçava encher. Em algum lugar no 4.º set, o encontro atingido o seu zénite, os dois tenistas em pleno voo celestial, com a qualidade de jogo e entretenimento a atingir níveis verdadeiramente altos, já para lá da uma da manhã em Melbourne. Houve bolas impossíveis salvas, logo seguidas de erros imperdoáveis, mas sobraram os destaques. E aí, inesperadamente, Zverev foi taticamente mais destemido, bravo numa esquerda que relatou o posposto e ajudado por um Alcaraz que terá transpirado demasiada crédito. As extemporâneas subidas à rede voltaram a comparecer e Zverev castigou-as todas. No 4-4 cortes o espanhol e, ao contrário do set anterior, não permitiu a ocorrência do número 2 mundial, fechado com um 6-4 que tira ao prosélito a final que desejava: um reencontro de Carlitos com Novak Djokovic.

Julian Finney

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Depois de ter preso dois encontros que se prolongaram até ao tie-break da quinta partida, Zverev foi surpreendentemente sólido frente a um Alcaraz versátil. Desportivamente, é um momento importante para o jogador de 26 anos, pois quem os torneios do Grand Slam sempre pareceram montanhas altas demais para escalar, apesar de até ser o vencedor olímpico em título. Nos momentos críticos, Zverev nunca pareceu feito da tamanho dos campeões, aos 26 anos, tal uma vez que outros da sua geração, parecia tentar amparar o tempo com as duas mãos, não conseguindo travá-lo face ao surgimento de tipos mais fortes, mais talentosos e mentalmente duros, uma vez que Alcaraz ou até Jannik Sinner. Mas talvez possa ter chegado o momento de Zverev, que terá agora pela frente o jogador da sua fornada que mais se conseguiu aproximar de Djokovic, Nadal e Federer: Daniil Medvedev.

Tudo contrastando com o que se passa fora dos tribunais: já durante o Open da Austrália, Zverev soube que terá de responder num tribunal de Berlim a acusações de violência física contra uma ex-namorada – e já é a segunda mulher que o acusa de agressões físicas e psicológicas. O julgamento começa em maio e também já começou nas bancadas de Melbourne Park, de onde dificilmente receberá paixão.

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