Lucas tinha terminado de entrar na Universidade de Coimbra e não encontrou um quarto a preços que pudesse suportar. A solução surgiu a partir de um projeto que inaugurou a porta da mansão de Zulmira, de 68 anos.
Lucas Cruz, de 18 anos, entrou, neste ano letivo, na segunda período de aproximação, no curso de Ciências da Instrução na Universidade de Coimbra (UC), mas depois da felicidade inicial de adesão no curso que queria e naqueles que tinham sido a sua primeira opção, veio a dificuldade de encontrar alojamento, num momento em que se verifica um aumento dos preços no mercado privado de locação.
As residências universitárias não tinham vagas e os preços que encontravam de quarto “não eram os mais amigáveis”, recordou à dependência Lusa o estudante de Esposende.
“Tornava-se difícil conseguir permanecer num quarto mercantil. Foi uma situação complicada”, contornou.
Nas pesquisas que foi fazendo à procura de uma solução, encontrei o projeto “Amplexo de Gerações”, criado em 2023, em Coimbra, através do qual estudantes universitários podem receber alojamento gratuito em mansão de uma pessoa idosa da cidade e, em troca, asseguram companhia e qualquer esteio em tarefas domésticas.
“Eu vi o projeto […] e por exclusivamente me candidatar. Foi a melhor escolha que fiz”, afirmou.
De seguida, entrou em acto a equipa do projecto dinamizado pela Associação Cozinhas Económicas Rainha Santa Isabel (ACERSI) e coordenado por Teresa Sousa, que faz uma avaliação socioeconómica e psicológica do estudante e das pessoas mais velhas que queiram participar no programa.
Depois essa avaliação que determina a seleção ou exclusão de candidatos (no caso dos estudantes, avaliação de traços de personalidade; no caso dos idosos, avaliação de declínio cognitivo, demência e realização de atividades da vida diária), a equipe faz uma espécie de teste de compatibilidade entre os participantes e contato entre duas partes.
Diante da situação de urgência de Lucas, que já estava faltando às aulas há semana e meia por não encontrar um quarto, a equipe acelerou o processo e rapidamente Lucas e Zulmira Santos se encontraram.
“Demo-nos muito muito”, lembrou o estudante, que, pretérito um dia daquele primeiro encontro, mudou-se para a mansão de Zulmira, médica psiquiatra de 68 anos, reformada há pouco tempo e que já se tinha inscrito no projeto no final do ano letivo 2022/2023.
Já Zulmira Santos lembra-se de ter ficado um pouco recebida, inicialmente, pelo projeto que lhe indicasse um rapaz, quando “tinha pedido uma rapariga”.
“Fomos ao encontro e de repentino descobrimos que não tinha nenhum problema, que os problemas tinham ficado por ali. Correu tudo muito e me preocupou com a situação de urgência que o Lucas tinha”, recordou a médica, sublinhando que o facto de possuir um projeto por trás, que assegura esteio e comitiva, deu-lhe outra segurança na tomada de decisão.
“Acho que não pude ter pedido melhor e, para o tempo que passou, acho que nos damos muito muito e parece que nos conhecemos há anos”, afirmou Lucas.
Zulmira corrobora: “Tem sido uma experiência espetacular. Excedeu as minhas expectativas”.
Para a antiga clínica, sabe-lhe muito ter “alguém em mansão com quem partilha aspectos da vida, trocar flores, ver séries”.
Passados mais de três meses desde que se conheceram, Zulmira fala de Lucas uma vez que “um companheirão” com “sentido de humor” e que faz para que a coabitação “corra muito”.
O projeto não pretende exclusivamente dar uma solução de habitação para estudantes através de uma simples troca – companhia por um quarto -, mas fabricar relações efetivas e reais entre pessoas de gerações distintas.
No caso de Zulmira e Lucas, é isso que está acontecendo.
“Penso que o enriquece e a mim também me enriquece”, frisou Zulmira.

No dia-a-dia, é a companhia que mais valoriza, já que neste projeto são escolhidas pessoas com autonomia, mas Lucas dá também qualquer esteio em “pequenas tarefas domésticas”.
“O Lucas está sempre [presente]. Sabe quais são [as tarefas em que preciso de ajuda] e não é preciso dizer-lhe, que ele está lá sempre para saber quando é que há de pôr a mão”, afirmou.
Ao longo de três meses, para além das séries, os dois acumulam horas de conversas, já que gostam de conversar “sobre tudo e mais alguma coisa”, disse ainda Zulmira.
“Desabafamos sobre coisas da nossa vida que pouca gente sabe”, acrescentou Lucas, sublinhando que vê a relação que criou com Zulmira uma vez que sendo “praticamente família”.
Teresa Sousa, coordenadora do projeto, não poderia estar mais satisfeita com levante caso.
“Não nos interessa ter muita quantidade, mas qualidade. Ficamos felizes se integrarmos mais pessoas, mas nos interessarmos pela qualidade do programa e pelas relações que se criam entre pessoas que não se conhecem de lado nenhum e, pretérito qualquer tempo, passam a ser família”, afirmou.
O projeto, de momento, tem três jovens em casas de três idosos de Coimbra e seis estudantes avaliados e com perfil ajustado ao programa, mas sem capacidade de resposta do outro lado.
Para exemplificar a discrepância da procura entre os dois lados, Teresa Sousa recordou que já recebeu tapume de 100 candidaturas de estudantes e exclusivamente dez de idosos desde o arranque do projeto, que ganhou uma maior atenção depois de ser bem pelo Meo, que disponibiliza um “ aproximação vantajoso” a pacotes dos seus serviços e que acrescenta ainda as respostas que existem deste género a nível vernáculo no site partilhacasa.pt.
“Precisamos de mais pessoas idosas que abram a porta da sua mansão e se sintam confiantes e que acreditem neste programa, porque é um programa que é sério, em que há uma avaliação e comitiva do processo e não é preciso possuir recebimento”, vincou Teresa Sousa.
Zulmira enalteceu a partilha construída ao longo de tempo e destacada para coisas tão simples uma vez que tomar o pequeno-almoço escoltado.
“É uma coisa que não tinha há qualquer tempo, há uns seis ou sete anos, e sabe muito muito essa companhia. A mansão fica mais enxurro”, sublinhou.
Para além da mansão enxurro, há também um sentimento de altruísmo que a levou logo na primeira hora a contactar o projecto, logo que leu sobre ele no jornal Quotidiano de Coimbra.
“Poder ajudar alguém que quer estudar, que tem vontade de estudar, isso me dá uma satisfação enorme, de poder contribuir para o porvir dele”, salientou.
Os assuntos em participar no “Amplexo de Gerações” podem fazê-lo através do ‘site’ partilhacasa.pt, através do contacto 969372028 ou do ‘e-mail’ [email protected].