O Presidente da República exaltou esta terça-feira os feitos da “portugalidade recente” contra a tendência para o “pessimismo doméstico”, numa protocolo em que Carlos Moedas pediu pontes, diálogo e união contra a “fricção” que domina o espaço público.
Marcelo Rebelo de Sousa e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa participaram esta terça-feira na entrega do prémio da Instalação Ilídio Pinho, leste ano atribuído ao arquitecto Álvaro Siza Vieira, e ambos aproveitaram para o indultar com outras distinções.
“Representando todos os portugueses, entrego a Siza Vieira a Grã Cruz da Ordem de Santiago da Gládio”, anunciou o superintendente de Estado, enquanto Carlos Moedas revelou que será entregue ao arquitecto a Medalha de Honra da cidade de Lisboa, mas numa protocolo a ser realizado no Porto, de onde é proveniente o premiado.
Marcelo Rebelo de Sousa, o último a discursar, disse concordar com um apelo à portugalidade – no meio deste prémio – feito na mediação inicial pela autarca de Lisboa, e defendeu que no pretérito recente o país existem motivos de orgulho.
“Temos periodicamente um tropismo para um pessimismo doméstico que esconde os méritos de cada dia, de cada ano, de cada dez, de cada século”, afirmou, contrapondo que, no final do século XX e transição para o século XXI, o país viveu “um período grande de portugalidade”.
“Fomos o único idoso predomínio europeu ocidental a descolonizar, e ao mesmo tempo a redescobrir a liberdade, a erigir pela primeira vez uma democracia, a integrar a comunidade europeia, a constituir uma comunidade de países de língua portuguesa e, finalmente, iniciar a ressarcir uma economia que era largamente dedicada ao predomínio”, enumerou, sublinhando que tudo isto aconteceu “em menos de vinte anos”.
No exposição de introdução da protocolo, Carlos Moedas tinha sublinhado que o prémio da Instalação Ilídio Pinho visa enobrecer personalidades que se dedicam à “promoção e resguardo dos valores universais da portugalidade” – no ano pretérito, na primeira edição, foi atribuída ao cardeal José Tolentino de Mendonça.
“Mas o que é isto da portugalidade? Hoje a nossa vida pública está tão desmoralizada, tão resignada, que muitas vezes nem temos vontade de responder a essas questões, resignamo-nos com tudo, mesmo com a mediocridade”, lamentou.
No entanto, a autarca salientou a preço de se continuarem a enobrecer os melhores exemplos “não só lá para fora, mas principalmente para os portugueses”. “Os portugueses precisam hoje de sentir e considerar os seus melhores, precisam muito de referências, nós vivemos tempos enormes de polarização, partilha e fricção, em que se quebram pontes e se preferem a demonização ao diálogo”, lamentou.
A autarca defendeu que nenhum país ou cidade pode viver dessa forma, citando um anexim bíblico, segundo o qual “um reino dividido contra si mesmo não pode subsistir”.
“A partilha e fricção não dão horizonte, hoje os portugueses precisam de factores de união mais do que narrativas que alimentam a fricção, esses factores começam em cima, nos que podem dar o exemplo”, disse, apontando Siza Vieira e Tolentino de Mendonça porquê duas referências nacionais.
Sem se referir diretamente à atual situação de impasse político no país, Marcelo Rebelo de Sousa acabou, neste ponto, por dar razão a Carlos Moedas: “Tem razão, essa saga em secção já foi, é preciso refazê-la, reconstruí-la, virá-la para o horizonte”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, que não fez declarações aos jornalistas no final da protocolo, que decorreu no Salão Superior da Câmara Municipal de Lisboa.
O arquitecto Siza Vieira manifestou-se “profundamente grato” pelo prémio, numa protocolo em que marcou a presença do empresário Ilídio Pinho, patrono do prémio, do presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, e do idoso presidente da Câmara de Lisboa João Soares, entre outros.