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O concerto mítico do Nirvana em Cascais foi há 30 anos: Kurt Cobain estava “sonolento”, houve “muito mosh” e um som de “panela de pressão”

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“Às 10.18 horas as luzes apagaram-se para deixar ver o palco em tons roxos, a histerismo começou. Os gritos das meninas que estavam nas bancadas aumentaram quando viram, nos bastidores, a silhueta de Kurt Cobain a atear um cigarro. A guincharia aumentou ainda mais quando os músicos entraram no palco. À esquerda estava Kurt Cobain, ao meio Chris Novoselic e Pat Smear na ponta direita”, escreveu António Freitas no jornal BLITZ, na edição que sequência o muito aguardado concerto em Portugal, ocorrido a 6 de fevereiro de 1994. Era o primeiro concerto da volta europeia da última passeata do Nirvana com Kurt Cobain, que viria a ser encontrado morto em 5 de abril seguinte. A In Utero Tour nunca chegaria ao termo – o último concerto aconteceu em Munique, na Alemanha, a 1 de março; as restantes dados ficaram adiadas para sempre.

A lotação de 4500 lugares no palco mítico do Dramático de Cascais esgotou com antecedência. No número anterior do BLITZ, Dave Grohl disse em entrevista ao jornal BLITZ que o concerto seria o melhor de toda a passeata. “Vocês estão cheios de sorte. Podemos grafar isto: vai ser o melhor concerto das nossas vidas!!! Estou excitadíssimo. A propósito, uma vez que é que está o tempo por aí?”, brincou o baterista.

À quadra os Nirvana eram “a coqueluche das novas gerações”, notava António Freitas no BLITZ, “embora muitos não saibam porquê”. “Eu me sinto bastante honrado quando me dizem uma coisa dessas. Mas é, para mim, pensar que conseguir mudar alguma coisa na indústria músico. Eu, o Chris, e o Kurt somos pessoas normais. Somos novos, zangados, um fatia difícil estúpidos e faz muito estrondo. E quando alguém diz que fez com que as coisas fossem diferentes, isso é para nós motivo de orgulho. A indústria é uma merda, está enxurro de mentiras, há tantas bandas incrivelmente boas que você nunca ouviuste porque as editoras não dispostos a investir verba estão nelas… Mas é verdade que quando chegámos ao primeiro lugar do top ficámos todos os conteúdos. Dissemos: as pessoas já não andam a ouvir Guns N’ Roses ou Whitney Houston, andam a ouvir Nirvana”, disse-nos portanto Dave Grohl.

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Os Nirvana trouxeram consigo o guitarrista Pat Smear (ex-Germs, que, mais tarde, se juntou a Grohl nos Foo Fighters) e a violoncelista Melora Creager (em substituições de Lori Goldston, de quem instrumento se ouve em “In Utero”). A filarmónica apresentou um alinhamento que cruzava novidades, uma vez que ‘Radio Friendly Unit Shifter’ (com o qual abriram a atuação) ou ‘Serve the Servants’, com outras músicas já muito conhecidas dos fãs, casos de ‘Come As You Are’, ‘ Smells Like Teen Spirit’ ou ‘About a Girl’.

Entre as mais de quatro milénio pessoas que encheram a sala de espetáculos estava David Fonseca, que em maio de 2012 gravou à BLITZ: “fui ver os Nirvana ao Dramático de Cascais e lembro-me de ‘Scentless Apprentice’ ser a música que mais queria ouvir. E eles tocaram-na. Caí tantas vezes no “mosh pit” que só me lembro de ouvir bocados. Na profundidade, às vezes a ação fora do palco era mais agitada que em cima dele”.

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“O Pavilhão estava pleno e houve muito mosh – ambas as situações eram comuns, à quadra da sala. Lembro-me que foi um concerto difícil de fotografar: deram-nos três músicas para estarmos no fosso, ou ainda menos; a luz era má e o Kurt Cobain, sempre na mesma posição, praticamente não olhou em frente, escondendo a rosto por detrás do cabelo”, registrou em 2019 Rita Carmo, fotojornalista da BLITZ. “Toda a gente conhecia o trajo de ele estar pleno de drogas e já estava à espera que não tivesse grande empatia com o público”, acrescenta. Somente “sete ou oito fotógrafos” terão registado o concerto dos Nirvana em Cascais, e muitas destas imagens, portanto sem suporte do dedo, terão concluído por vanescer. Em 1995, algumas das fotografias tiradas por Rita Carmo foram publicadas no livro sobre os Nirvana e Kurt Cobain, escrito por Ana Cristina Ferrão e lançado pela editora Assírio e Alvim.

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Também Gabriela Carrilho, o gavinha de relação entre a promotora o agente dos Nirvana, gravou o espetáculo em declarações à BLITZ, em 2011, destacando-se as mais condições do Dramático de Cascais. “Tinha um som horroroso. Parecia que estavam a tocar dentro de uma panela de pressão. Na minha modesta opinião, o concerto não foi grande coisa. O Kurt Cobain continuou igual a si mesmo, de tal forma que quando morreu, pouco depois, fiquei chocada mas não surpreendida. A única coisa que ele me disse quando esteve cá foi: onde é que podemos ir cá, à noite, onde há droga?”.

Cristina Espírito Santo, da editora BMG, falou à BLITZ, também em 2011, sobre o concerto, registrando momentos de bastidores. “Durante a tarde estivemos lá a falar um pouco com eles. O Kurt Cobain estava deitado, até de costas para nós, quando entrámos cumprimentou-nos, disse ‘olá, tudo muito?’, mas estava extremamente sonolento. Tornou a voltar-se para o outro lado e continuou a dormir. Aquelas conversas que costumam ter sobre Portugal. Disseram que gostavam muito e agradeceram por serem tão populares em Portugal. Aquelas conversas chavão. Mas estavam extremamente felizes, excetuando o Cobain, que estava muito sonolento”. A reportagem de António Freitas nas páginas do portanto jornal BLITZ dava conta de um espetáculo que deixou a audiência convencida: “Para trás ficou um público maravilhado e absolutamente rendido à simplicidade do trio que transformou o punk”.

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Alinhamento do concerto

Shifter de unidade conciliável com rádio
Drenar você
Raça
Servir os servos
Venha uma vez que você é
Cheira a espírito jovem
Lasca
Estúpido
Em flor
Sobre uma pequena
Lítio
chá de poejo
Escola
Polly
Muito Macaco
Viçoso
Estupre-me
Mijadas territoriais

Bis:
Jesus não me quer por um relâmpago de sol (as vaselinas)
O Varão que Vendeu o Mundo (David Bowie)
Todas as desculpas
Em uma planície
Novel sem cheiro
Caixa em formato de coração
Estraguei

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Publicado originalmente na BLITZ em fevereiro de 2019, com depoimentos coletados para um trabalho publicado na revista BLITZ em 2011

Fonte

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