A orquestra sonora do filme “Pobres Criaturas”, de Yorgos Lanthimos, composta por Jerskin Fendrix e que inclui um fado interpretado por Carminho, é nomeada para os prémios norte-americanos do cinema Óscares, revelou hoje a organização.
“Poor Things” – “Pobres Criaturas”, uma comédia gótica realizada por Yorgos Lanthimos é protagonizada por Emma Stone, Mark Ruffalo e Willem Defoe, e conta com uma pequena participação da cantora portuguesa Carminho.
Numa das cenas, Carminho interpreta à guitarra portuguesa o fado “O quarto”, numa cena com a atriz Emma Stone, num cenário de uma Lisboa imaginária, de tempo indefinido, mas onde não faltam azulejos, ruelas antigas e muitos pastéis de nata.
De congraçamento com a lista de nomeados para a 96.ª edição dos Óscares, a orquestra sonora de “Pobres Criaturas” é nomeada para Melhor Música Original, ao lado dos filmes “American Fiction”, “Indiana Jones e o marcador do direcção”, “ Assassinos da Lua das Flores” e “Oppenheimer”.
A orquestra sonora, composta pelo músico britânico Jerskin Fendrix, inclui o fado “O quarto”, interpretado pela fadista Carminho, que tem uma participação no filme, a trovar e a tocar guitarra portuguesa.
Nas vésperas da estreia portuguesa de “Pobres Criaturas”, marcada para quinta-feira, Carminho recordou à escritório Lusa que participou na rodagem em 2021, num estúdio em Budapeste, numa fundura em que estava a preparar o álbum “Portuguesa”. Carminho contou que o realizador, muito informado sobre o fado, queria para o filme uma certa “relação entre o tradicional e a imagem contemporânea” e pediu-lhe ainda que tocasse a guitarra portuguesa, o que para o fadista foi uma estreia e é uma experiência ainda rara entre as mulheres.
“O filme fala muito sobre feminismo e desconstrói posições mais ortodoxas entre homens e mulheres e o fado foi moldado durante muitos anos por posição muito definida: a mulher canta, os homens gerem a morada de fados, tocam, fazem os poemas. Ele [o realizador] quer desconstruir essas construções mais calcificadas. Eu também sinto que esse é o meu papel”, explicou a cantora.
Para Carminho, que cresceu neste meio, que se estreou no palco com 12 anos e editou o primeiro disco há 15 anos, precisamente intitulado “Fado” (2009), o fado é uma linguagem.
“O fado é a minha tradição, foi no fado que aprendi a ler música, a interpretar. O fado é a linguagem, mas o oração não tem de ser o de há centena anos, nem de há cinco anos, tem de ser um oração que me representa, que fala comigo”, sublinhou.
O álbum “Portuguesa”, que abre com o fado “O quarto”, foi publicado em março de 2023, enquanto o filme “Pobres Criaturas” teve uma estreia mundial, premiada, em setembro de 2023 no festival de Veneza.
Carminho teve um ano intenso, com quase 80 concertos em Portugal, outros palcos europeus, no Brasil, em Moçambique e nos Estados Unidos, onde em dezembro participou ainda na antestreia mercantil ao lado do realizador e do elenco e teve recta a uma versão surpresa do fado que canta no filme.