O seu trajectória de vida está intimamente ligado ao de Angola independente. Foi, enfim, comparte do hino de Angola com o repórter e dramaturgo Manuel Rui e foi também ministro da Instrução Física e Desportos angolano entre 1979 e 1989 e, entre 1990 e 1995, emissário da pátria africana em Portugal. Varão de talentos multifacetados, Ruy Mingas, falecido esta quinta-feira em Lisboa, aos 84 anos, foi também recordista português do salto em fundura. Mas foi, supra de tudo, poeta, cantor e compositor, um nome maior da música angolana e comparte, por exemplo, da Meninos do Huambo popularizada em 1985 por Paulo de Roble.
Nascido em Luanda a 12 de Maio de 1939, Ruy Mingas destacou-se primeiro no desporto. Desportista do Benfica nas categorias de 110 metros barreiras e salto em fundura, bateria o recorde vernáculo da segunda em 1960. Porém, tal uma vez que outro angolano seu contemporâneo em Lisboa, Barceló de Roble, que conhece hoje uma vez que Bonga, mas que também foi vencedor de atletismo, pelo mesmo clube, na dez de 1960, Ruy Mingas seguiria outra musa. No seu caso, podemos mesmo declarar que houve uma certa inevitabilidade na sua dedicação à música e ao seu envolvimento hipotecado na luta independentista e anticolonialista angolana.
Ruy Mingas era, enfim, sobrinho do Liceu Vieira Dias, figura fundamental da música popular angolana, co-fundador dos míticos N’Gola Ritmos no final dos anos 1940, um lutador contra a vexação colonial portuguesa que o Estado Novo encarcerou durante vários anos no Tarrafal, o temido campo de concentração para presos políticos em Cabo Verdejante.
Desse exemplo familiar bebeu abundantemente Ruy Mingas, uma vez que o comprovam uma cantiga uma vez que Monangambé (1974), sob poema de António Jacinto (“Naquela roça grande tem moca maduro/ e aquele vermelho-cereja/ são gotas do meu sangue feitas suco“), ou álbuns uma vez que Angola (1970) e Temas Angolanos (1974). Neles, uma vez que escrevia Kalaf Epalanga em 2020, numa crônica para a revista brasileira Quatro Cinco Umouvíamos “o varão que deu voz às aspirações do povo angolano e cantou uma vez que Menos nossa dor e ânsia por liberdade”.
O grande público contactou pela primeira vez com Ruy Mingas em Portugal quando actuou em 1969 no Zíper Zíper, o programa histórico da RTP apresentado por Fialho Gouveia, Raul Solnado e Carlos Cruz – acompanhá-lo nas percussões estava Bonga. No ano seguinte editou seu primeiro álbum Angolaque viria a ser lançado, além de Portugal, em Itália, Espanha ou França – o seu prestígio neste país levou mesmo à sua elevação, em 2010, com o Prémio de Arte, Cultura e Letras da Liceu Francesa de Instrução.
Sem que o público português o notícias, porém, Ruy Mingas já interviera de forma marcante na música portuguesa, ainda que por interposta pessoa: foi ele a apresentar aos Sheiks de Carlos Mendes e Paulo de Roble o clássico Horário de verão, de George Gershwin, que a grande orquestra do yé yé português gravou em 1965 uma vez que seu primeiro single. Nesse período, moveu-se no seio dos estudantes africanos em Portugal, desenvolveu a sua consciência e operosidade política e integrou os Ngola Kizomba, orquestra emanada da Morada dos Estudantes do Poderio na Capital Portuguesa.
Através das suas composições, musicando poetas da luta independentista angolana uma vez que Viriato Cruz, o supramencionado António Jacinto ou o porvir Presidente da República Agostinho Neto, ou colaborando com Manuel Rui (além do hino de Angola, com posto em conjunto, em 1976, Meninos do Huamboentre outras), Ruy Mingas legou à música angolana, na sua voz enxurro, expressiva e ponderada, temas uma vez que Birin birin, Ixi ami, Poema da farra, Adeus à hora da largada ou você já mencionou Monangambé.
Em seguida o 25 de Abril e a independência de Angola, vestiu a farda política e tornou-se ministro, primeiro, e depois emissário. Em 1995, foi agraciado por Portugal com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. No início deste século, padroeiro da ensino uma vez que alavanca segura para as prosperidades do seu povo, impulsionou a instalação da Universidade Lusíada em Angola, uma instituição de ensino superior privado no país, com pólos em Luanda, Cabinda e Benguela. A música, porém, continuava presente.
Em 2011, o pai da cantora Katila Mingas e da protótipo Nayma, editou Memóriaálbum em que compilou originais e novas versões das suas canções, qual testemunho artístico feito ponte entre o pretérito e o presente.