Março 22, 2025
‘Saltburn’ é um thriller delicioso perverso e hipersexual – 22/12/2023 – Ilustrada

‘Saltburn’ é um thriller delicioso perverso e hipersexual – 22/12/2023 – Ilustrada

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“Saltburn”, o segundo filme da escritora e diretora Emerald Fennell, que ganhou um Oscar em 2021 pelo roteiro de “Bela Vingança”, tem um estilo gótico de filmagem e mistura a Inglaterra de “Downton Abbey” —em toda a sua pompa e condição— com a de Ronald Biggs, o lendário salteador de trem que fugiu da masmorra e se refugiou no Brasil, onde viveu entre 1970 e 2001.

Oliver Quick, um estudante bolsista da Universidade de Oxford interpretado por Barry Keoghan, não é um garoto popular, nem bonito, nem jocoso, e sofre para fazer amigos. Os alunos tiram sarro de seu jeito dissemelhante, suas roupas de brechó e da sua proximidade com o outro extravagante da faculdade, Michael, papel de Evan Mitchell.

Até que um dia, por casualidade, Oliver faz um obséquio ao Deus Sol do lugar, o charmoso aristocrata Felix Catton, interpretado por Jacob Elordi —guarde esse nome, se é que você ainda está imune ao charme deste jovem australiano de 26 anos, o Nate da série “Euphoria” e o Elvis do filme “Priscilla”, de Sofia Coppola.

Felix, de tão grato, aproxima Oliver de sua turma, um grupo de garotos e garotas muito nascidos e malcriados que fazem festas, bebe, cheira cocaína, transa livremente e usa o humor sarcástico inglês no dia a dia. Parece, em confrontação com Oliver, uma espécie específica.

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Ele fica mais do que seduzido por Felix, hipnotizado pela existência tão absurdamente fácil, charmosa e enxurrada de vida do garoto. O novo companheiro o convida para passar as férias de verão com sua família em Saltburn —e, quando a propriedade tem até nome próprio, na Inglaterra, isso costuma querer proferir muita coisa. Tradição, numerário de família e comportamento exótico são o combo principal.

“Saltburn”, o filme, faz um retrato sombrio do que a preocupação e o libido visceral podem provocar em um jovem uma vez que Oliver, desesperado para pertencer ao grupo mais lícito de sua faculdade e tendo, na intimidade, a certeza de que aquele lugar nunca será legitimamente seu.

Saltburn, a propriedade, é uma dessas casas de famílias nobres da Inglaterra, no campo, que talvez até tenha feito sentido há dois séculos, quando era procedente ter mais gente trabalhando para servir a uma família abastada de membros da própria família. Os cômodos são amplos e há uma livraria, uma galeria, uma fileira setentrião, uma fileira sul, obras de arte, tapetes gigantescos e lustres de cristal.

A apresentação da moradia, feita por um Felix vestido de jeans e camisa amassados ​​e os pés descalços, em um plano-sequência, já é um momentâneo clássico. O mordomo de Saltburn, Duncan, interpretado por Paul Rhys, que pega Oliver e parece ofendido pela presença do garoto da classe média, deixa simples que o clima dali para frente será mais de suspense que de drama.

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A direção de arte do filme é ultra caprichada, não há pormenor que não tenha sido escolhido a dedo, nenhuma peça de roupa do figurino existe ao casualidade, é tudo secção da linguagem transgressora desta trama. Preste atenção aos espelhos e aos reflexos, seja nas águas do lago perto da moradia ou na mesa de jantar, de metal polido.

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Há metáforas em tudo. O roteiro de Fennell usa imagens de mariposas, aranhas e vampiros para criar o clima meio delirante, meio febril da verdade altamente exposta da família Catton e de Saltburn aos olhos de Oliver.

O elenco, todo talentoso, se adequa perfeitamente à história e suas trágicas reviravoltas. Barry Keoghan é um protagonista sinistro e irresistível na mesma medida, que alterna momentos de mel e deserção com outros de pura sociopatia.

Jacob Elordi, ah, Jacob Elordi. Cabelo desgrenhado, roupas sempre amassadas sobre um esqueleto divino enroupado por tanto exato de mesocarpo sobre os ossos e de pele sobre a mesocarpo. Ele é todo charme e sex Appeal, a fidalguia vira um mero pormenor de sua gloriosa existência.

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Alison Oliver, que interpreta a mana problemática de Felix, Venetia, uma pequena bulímica e insaciável sexualmente, é impecável, assim uma vez que Carey Mulligan, que faz uma participação curta porém marcante uma vez que a amiga excêntrica da família, Pamela. Richard E. Grant também não decepciona uma vez que Sir James Catton, o pai da família.

Mas a arma secreta deste elenco é Rosamund Pike, uma vez que a matriarca Elspeth, um ex-modelo exótico que parece fazer questão de exibir em cada fala que é dissemelhante do resto da humanidade. Antes de apresentá-la a Oliver, Felix já avisa que sua mãe tem fobia de pelos visuais, portanto ele deve se barbear antes de encontrá-la. Quando isso acontece, ela conta, sem se desculpar, que também tem uma intolerância irrefreável a gente feia.

“Saltburn” é, em resumo, uma sátira. Se você não se diverte com a perversidade dos personagens, das situações e até dos finais cada vez mais amedrontadores, não há muito neste filme para você. Mas quem mergulha por completo nesse estranho universo, pleno de libido e repulsa e em tudo excessivo, vai ter duas horas e onze minutos de muito prazer.

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