O sonho velho de André Villas-Boas ainda não ganhou vida nesta quarta-feira, mas o primeiro grande passo, a candidatura, já está oferecido. Foi numa Alfândega iluminada a azul e branco que o velho técnico anunciou oficialmente que será candidato nas próximas eleições do FC Porto.
“É um momento de grande significado para mim, pleno de portismo, sede e vontade de vencer. Um passo para o qual me preparei, para poder ir de encontro às vossas exigências. Um passo de grande responsabilidade conquistado em consciência”, começou por manifestar ó técnico. Villas-Boas diz querer um “FC Porto mais possante, mais competitivo, dos sócios e para os sócios”.
Apesar de considerar o trabalho de Jorge Nuno Pinto da Costa, Villas-Boas diz que “o clube vive seguro por gratidão a uma gestão sem rumor e sem nexo”. “Parecemos capturados por um conjunto de interesses alheios ao FC Porto que ferem os valores fundamentais da nossa instituição”, criticou o agora candidato, que acrescentou: “Estaremos sempre gratos a Pinto da Costa, mas é tempo de mudança.”
Para André Villas-Boas, a notícia da recente governo “foge frequentemente à verdade”, dizendo que estão a ser tomadas decisões a poucos meses das eleições que podem “hipotecar o horizonte do clube durante 15 anos”. O velho treinador relembrou os vários jogadores do “dispêndio zero” que saíram do Dragão, focando também as transferências falhadas que saíram custoso aos cofres do clube. “Será que servirá interesses de outros alheios ao clube?”, questionou, lamentando que o clube esteja a ser ultrapassado pelos rivais em várias áreas.
Quebrar o status quo do terror
Villas-Boas garantiu ser precisa a coragem de tentar quebrar o status quo do terror, “onde ninguém se pode expressar livremente ou manifestar o que pensa”. A apresentação dos órgãos sociais fica para um momento horizonte, explicitando unicamente que eles mesmos estiveram presentes na apresentação.
Na vertente desportiva, o novo candidato quer renovar o escotismo portista, com planeamento das equipas a limitado, médio e longo prazo em todas as modalidades. O futebol feminino e o futsal serão uma verdade no clube, garante Villas-Boas.
Adriano Miranda
Um dos “trunfos” na manga do novo candidato é o núcleo de formação prometido pela recente governo do FC Porto. Villas-Boas lembrou que os terrenos na Maia ainda não são dos portistas e podem ser adquiridos por um privado durante a venda em hasta pública.
“Uma liceu prometida em 2016 é hoje, em 2024, uma promessa eleitoral”, ironizou, garantindo que serão apresentados publicamente os planos da sua lista para esta estrutura. “Infelizmente, nesta questão, somos reféns da recente governo. Temos de honrar os contratos que vierem a ser assinados, mas olhamos com mortificação para esta questão”.
Maior transparência
André Villas-Boas apresenta-se porquê uma escolha mais transparente à gestão atual. Neste sentido, apresenta um Portal de Transferências, uma página que detalhará todas as comissões que envolvem a transferência de um determinado jogador. Serão ainda propostos tectos máximos para os prémios da governo, tema polémico no Dragão.
Quanto às modalidades, Villas-Boas diz ter o objectivo da “auto-sustentabilidade”, garantindo uma aposta no ecletismo. “Temos cultura, temos tradição, temos valores e é isso que quero cimentar”, finalizou, prometendo colocar os sócios no núcleo da notícia: “As casas do FC Porto não servem só para sovar palmas nas galas dos Dragões de Ouro.”
Para finalizar a mediação, Villas-Boas pediu coragem aos apoiantes e que a mensagem fosse transmitida aos restantes associados. “Não tenha terror deste ato democrático. Esta mudança só pode sobrevir com o seu querer, a sua ação e o seu voto. É importante que, em Abril, todos os sócios se desloquem para ir votar. Sem terror de represálias.”
A derradeira “cadeira de sonho”
Começou porquê mero sectário, chegou a junto, foi treinador principal e assume-se agora porquê candidato à presidência do FC Porto, a derradeira “cadeira de sonho”. Poucos são os dirigentes que podem gabar-se de ter disputado as eleições com um vasto palmarés já conquistado em nome do clube. Feito ainda mais inédito se constatarmos que André Villas-Boas já tocou a taça da Liga dos Campeões e da Liga Europa. Esta foi uma mensagem transmitida durante a apresentação da candidatura, com a réplica dos dois troféus expostos em cantos opostos da sala.
Adriano Miranda
Foram vários os antigos jogadores e figuras de proa do clube e da cidade que fizeram questão de se transmitir para a Alfândega e mostrar suporte publicamente a André Villas-Boas. Nuno Valente, lateral-esquerdo que conquistou a Taça UEFA, “Champions” e Taça Intercontinental, relembra que o estado financeiro do clube não é o mais saudável.
“Toda a gente sabe que não é a melhor situação, tem de ter muitas mudanças. Não sou perito na espaço, mas, pelo que leio, é óbvio que não está no auge de quando vende jogadores por muitos milhões. Hoje isso não acontece. Se isso sobrevir, um pouco está mal no clube”, explicou o velho jogador.
Cecília Pedroto, viúva de José Maria Pedroto, também marcou presença no evento, com capacidade para 600 pessoas. Jorge Costa, histórico capitão dos “azuis e brancos”, também fez questão de mostrar publicamente o suporte ao velho treinador.
Adriano Miranda
A oficialização da candidatura demorou, mas não é uma surpresa. Muitos olharam para André Villas-Boas porquê o potencial sucessor de Pinto da Costa na presidência do FC Porto, incluindo o próprio dirigente “azul e branco”. Entretanto, a relação de amizade azedou. Poucos imaginavam, no entanto, que essa corrida pudesse ser feita contra o histórico dirigente.
Por enquanto, o velho treinador concorreu unicamente contra o empresário Nuno Lobo. Mas tudo pode mudar já esta quinta-feira, caso Pinto da Costa anuncie uma recandidatura no jantar de apoiantes que tem agendado para esse dia.