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O presidente dos Estados Unidos que for eleito no próximo mês, seja a atual vice-presidente democrata Kamala Harris ou o ex-presidente republicano Donald Trump, provavelmente adotará uma estratégia pragmática, acordada com outros governos e guiada pelo bipartidarismo norte-americano sobre a Venezuela, segundo especialistas.
Harris e Trump estrelarão as eleições presidenciais de 5 de novembro sem um favorito claro, embora as pesquisas recentes dar uma ligeira vantagem ao braço direito do presidente Joe Bidenenquanto na Venezuela aumentam as expectativas sobre o papel dos Estados Unidos numa eventual transição democrática e numa viragem para a aguda crise política e de direitos humanos que o país está a sofrer.
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, aspira a tomar posse em janeiro, após tendo vencido oficialmente as eleiçõesenquanto os seus adversários invocam uma maior pressão da comunidade internacional, com Washington no comando, para demonstrar a sua suposta vitória e iniciar a mudança rumo à presidência do seu antigo candidato Edmundo González.
Tamara Taraciuk Broner, diretora do Programa Peter D. Bell de Estado de Direito no Diálogo Interamericano, estima que a situação política na Venezuela não será uma prioridade para os Estados Unidos.
“É difícil saber qual será a posição de um governo nos Estados Unidos, seja ele democrata ou republicano, principalmente porque a América Latina não é uma prioridade, há muita competição no mundo com outras crises que atraem atenção”, disse ele ao VOA o líder do projeto que analisa a democracia, os direitos humanos, as práticas anticorrupção e a segurança dos cidadãos no continente.
No entanto, observa, quem quer que ganhe as eleições de Novembro deve compreender que a América Latina – e a Venezuela em particular, devido à sua crise política eleitoral – têm uma ligação com as questões internas que terão precedência na sua tomada de decisões.
“Se não houver solução (na Venezuela), haverá impacto na migração e também na segurança da região, porque significaria a consolidação de um regime abusivo com ligações claras ao crime organizado na América do Sul”, afirma. Taraciuk Broner.
“Nada é bom para os seus vizinhos, nem para os Estados Unidos”, insiste.
Segundo o instituto de pesquisas Poder y Economía, um em cada quatro venezuelanos planeja emigrar devido à crise política e de direitos humanos derivada da polêmica eleição presidencial de julho. A oposição Ele diz que tem provas de ter vencido confortavelmenteenquanto o governo reprime e detém centenas de dissidentes.
Segundo o analista do Diálogo Interamericano, a Casa Branca abordará as questões de política externa com pragmatismo e com maior preparação da sua equipe de trabalho, seja qual for o caso, já que será o segundo governo em que participarão Harris ou Trump.
Uma abordagem bipartidária
Os Estados Unidos e a Venezuela romperam relações diplomáticas em 2019, em meio a tensões prolongadas entre Caracas e Washington. Durante anos, o chavismo denunciou supostas conspirações violentas para tirá-lo do poder e a Casa Branca criticou práticas antidemocráticas e a alegada cumplicidade do governo sul-americano com o crime organizado.
Entre os venezuelanos, há hoje “muito interesse” no desenrolar das eleições de novembro nos Estados Unidos, afirma o diplomata reformado e antigo embaixador venezuelano nas Nações Unidas, Milos Alcalay.
Para os sul-americanos, sublinha, não existe um favorito claro para a presidência dos EUA, mas é fundamental que exista uma estratégia comum para a Venezuela que tanto os republicanos como os democratas apoiem. Ou seja, deveria ser uma causa bipartidária, enfatiza.
“Para nós é importante manter uma relação bipartidária para que qualquer um dos dois que alcance o cargo mais alto possa desenvolver a diplomacia de Estado para concretizar os princípios e valores da democracia e da liberdade”, afirma Alcalay.
Continuidade de Harris
Nenhum dos candidatos presidenciais dos Estados Unidos detalhou as suas possíveis linhas de ação política em relação à Venezuela ou as suas abordagens programáticas, insiste a especialista em relações internacionais e professora aposentada da Universidade Central da Venezuela, Elsa Cardozo.
Harris, sendo vice-presidente da atual administração do presidente Joe Biden, publicou alguns comentários sobre a crise político-eleitoral no país sul-americano nas últimas semanas. Em agosto, enviou uma carta aos líderes da oposição María Corina Machado e Edmundo González, que o antichavismo identifica como o presidente eleito da Venezuela.
Nele, ele prometeu apoiar “uma transferência de poder respeitosa e pacífica” após os controversos resultados eleitorais, que declararam Maduro o vencedor. O documento foi enviado a González Urrutia ele se exilou em MadridEspaña.
Se Harris vencer, espera-se a “continuidade” das políticas da Casa Branca em relação à Venezuela dos últimos 4 anos, acredita Cardozo. Uma das suas características será “o uso político de sanções económicas de forma persuasiva” contra o partido no poder, explica.
A manutenção das sanções económicas e o relaxamento de algumas delas têm sido geridos com o objectivo de persuadir o governo venezuelano a adoptar “certos comportamentos políticos”, que favoreceram a assinatura dos Acordos de Barbados, em Outubro de 2023, e que haveria eleições presidenciais. eleições em julho, sustenta o analista.
“Algumas sanções foram impostas, outras foram retiradas, foram feitas concessões importantes. Essa pressão internacional desempenhou um papel importante”, comenta ao VOA.
Outra característica da administração Biden-Harris tem sido articular a política dos Estados Unidos com a de outros atores, como a União Europeia e a América Latina, indica.
Se vencer, Harris reforçaria a chamada “reconstrução do vínculo transatlântico” por parte dos Estados Unidos, ressalta. A Casa Branca e a Europa avançaram “no mesmo ritmo” antes e depois das controversas eleições na Venezuela, exigindo conjuntamente a publicação detalhada dos resultados eleitorais e sem reconhecer Maduro como vencedor, aponta.
O terceiro ponto que Harris continuaria, segundo Cardozo, seria a manutenção de negociações diretas com o governo venezuelano, como evidenciado nas trocas de detidos e em assuntos de interesse energético para ambas as nações e para a Europa.
As perguntas de Trump
Uma vitória de Donald Trump levantaria “algumas questões” sobre as suas ações em relação à Venezuela, acredita Cardozo.
Segundo analistas, Trump, que governou os Estados Unidos entre 2016 e 2020, liderou uma política de pressão máxima para tirar Maduro do poder, reforçando sanções às instituições e à indústria energética venezuelana, entre 2017 e 2019.
As condições energéticas da região americana e europeia já não são as mesmas de então, destaca Cardozo. “A questão da imigração também pesará nas decisões tomadas sobre o caso venezuelano”, alerta.
Estima-se que cerca de 8 milhões de venezuelanos emigraram do seu país nos últimos anos. Centenas de milhares deles mudaram-se para os Estados Unidos para solicitar asilo político. No mês passado, Trump disse que, se fosse eleito em Novembro, iria realizar “a maior deportação” de imigrantes na história do seu país.
“Vamos tirar essas pessoas. “Vamos levá-la de volta para a Venezuela”, disse ele numa conferência de imprensa na Califórnia, em setembro.
Em julho, ao aceitar a nomeação republicana, Trump indicou que as taxas de criminalidade na Venezuela tinham diminuído porque os seus criminosos tinham sido enviados para os Estados Unidos. Especialistas na área criminal do país sul-americano refutaram essa afirmação.
Durante o único debate entre os dois, o ex-presidente disse que se Harris vencesse transformaria os Estados Unidos em “uma Venezuela com esteróides”, aludindo à sua crise.
Se recuperar o poder em Washington, Trump apresentará “menos confronto” com Caracas do que houve durante o seu primeiro mandato, estima Cardozo.
Trump seria tão “imprevisível” que poderia manter a mesma política de flexibilização de sanções da administração Biden e dos canais de comunicação com Caracas para buscar acordos com o governo Maduro, se não admitir que poderia ter perdido as eleições de julho e jurar para outro mandato presidencial em janeiro de 2025, diz ele.
O ex-presidente dos EUA teve “atritos e divergências muito grandes” com muitos países latino-americanos e com a União Europeia durante o seu governo, avalia Cardozo. “Se a sua política acabar sendo de confronto com a América Latina e a Europa, quebrar-se-ia a possibilidade de articular alternativas” para resolver a crise na Venezuela”, alerta.
A menos de um mês das eleições nos Estados Unidos, nenhum analista dentro ou fora dos Estados Unidos tem bola de cristal para antecipar as decisões de Harris ou Trump em relação à Venezuela e à América Latina em geral, alerta Taraciuk Broner, por sua vez.
Concorda, no entanto, que a Casa Branca terá a oportunidade de oferecer “cenouras e castigos” para alcançar uma solução para a crise venezuelana, juntamente com os seus vizinhos.
“Devido ao histórico de linguagem antiimperialista na região, não é aconselhável fazê-lo unilateralmente”, ressalta. “É mais benéfico para a causa fazê-lo em coordenação com outros governos”, conclui.
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