A crise política que esta terça-feira se instalou em Portugal e que levou o primeiro-ministro, António Costa, a demitir-se adensa um cenário já complicado para as empresas. Num contexto de juros elevados e de uma inflação que resiste em dar tréguas, os empresários portugueses lidam hoje com instabilidade acrescida em território pátrio.
“Simples que todos ficaram preocupados porque não vemos o que vem a seguir. O que mais queremos é segurança e o que hoje aconteceu é uma instabilidade”, admitiu Nuno Rangel, CEO da Rangel Logistics Solutions, durante uma mesa redonda durante a 13ª edição dos Prémios Exportação e Internacionalização – iniciativa do Novo Banco em associação com o Jornal de Negócios.
Também Mário Simões, CEO da SIRL (Simões & Rodrigues), quando questionado sobre o que antecipava para o próximo ano, foi contratado para ver com alguma preocupação a incerteza provocada pela “explosivo atómica” de hoje, uma vez que “o mercado português tem, de certa forma, um peso específico [na empresa]”.
Uma das preocupações entre os empresários é que os projetos no contexto do Portugal2030 e o Projecto de Recuperação e Resiliência (PRR) não avançam, diz Andrés Baltar, gestor do Novo Banco.
“O que mais me preocupa nesta crise é que os programas do Portugal2030 e do PRR estabelecem parados (…) seria uma pena não poder aproveitar os fundos europeus”, disse, acrescentando que “há riscos de isso intercorrer”.
Mário Simões admite também que “há sempre possibilidade” de um travão no PRR afetar o setor da construção. “Mas quando está em queda é que nós investimos”, assegurou.
Gonçalo Lobo Xavier, membro do júri dos prémios e diretor-geral da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED), defende que “o país não vai parar”, mas assume que o dia de hoje foi de “angústia”, uma vez que a demissão de António Costa faz prescrever a proposta de Orçamento do Estado para 2024.
“Estou angustiado com o dia de hoje. Não porque esperávamos algumas alterações [no OE]mas porque vamos entrar num período extremamente difícil de desconversar quando os governos e empresas se desviam era estar concentrados na solução de problemas”, atirou, destacando que, independentemente da decisão do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, venha a tomar “nenhuma situação é boa”.
“Portugal é divulgado internacionalmente nas suas decisões de investimento. A AICEP diz que [Portugal] é um país seguro e com segurança política, mas, porquê veem, tudo isso está a ser posto em desculpa”, justificou Lobo Xavier.
Uma verosímil rescisão da Tertúlia da República desculpa preocupação, sobretudo numa profundidade em que “temos vistos países que não conseguem produzir Governo”, admite Nuno Rangel. Para Mário Simões, se tal intercorrer, o pedido é que a solução que resultou de um novo Executivo “seja moderada”.
Sobre os impactos que uma política de crise pode ter na hora de investir, o CEO da Rangel-Distribuição e Logística diz que não está, neste momento, em cima da mesa refrear investimento, “mas tudo pode mudar rapidamente”. Admite-se, porém, que o prazo médio-longo é “possa penalizar empresas estrangeiras que queiram entrar em Portugal”.