Novembro 15, 2024
Para uns é “incómodo”, para outros há o “receio” de perder trabalho. Porque é que as nossas figuras públicas pouco ou nada falam de política?

Para uns é “incómodo”, para outros há o “receio” de perder trabalho. Porque é que as nossas figuras públicas pouco ou nada falam de política?

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Mais causas, menos compromissos. As figuras públicas portuguesas pouco ou nada falam de política e são escassas aquelas que assumem uma posição partidária. Manuel Luís Goucha diz que nunca se inibiu de mostrar quem apoia, já Ana Markl fê-lo este ano pela primeira vez. Falta o “apelo pop” que se vê lá fora e há um medo generalizado de perder trabalho, algo que Maria Vieira diz ter vivido na primeira pessoa. Especialistas dizem que o mercado português é demasiado pequeno para que a política compense

As eleições presidenciais norte-americanas têm sido uma verdadeira chuva de estrelas no que toca ao apoio público a candidatos. Já assim o tinha sido em 2020, mas o tom e a frequência do apoio (ou da crítica) torna-se agora mais fervoroso e chamativo, com nomes de peso como o ator George Clooney, a guru da televisão norte-americana Oprah Winfrey e a atriz Julia Louis-Dreyfus, que este ano deram voz e cara pelo Partido Democrata e por Kamala Harris. Do lado de Donald Trump, são sobretudo músicos aqueles que ecoam gritos de apoio, como Kanye West, Amber Rose, Kid Rock, 50 Cent, DaBaby, Kodak Black e M.I.A.

Também no Brasil se tem assistido a uma politização das celebridades. Nomes como Gal Costa, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Anitta e Wagner Moura mostraram o seu apoio público a Lula da Silva nas presidenciais de 2022, ao passo que personalidades como Humberto Martins, Regina Duarte, Zezé di Camargo e Gusttavo Lima se mantiveram publicamente do lado de Jair Bolsonaro. 

Por cá, o cenário é bem diferente: as nossas figuras públicas pouco ou nada falam de política, raras são as vezes em que se associam a um partido e preferem dar voz por causas para mostrar um posicionamento, quase sempre contra as ideologias de extrema-direita ou direita radical. 

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Bruno Ferreira Costa, professor de Ciência Política na Universidade da Beira Interior, explica que o facto de em Portugal não haver “uma divisão em dois polos e em dois projetos políticos”, como acontece nos Estados Unidos e como aconteceu recentemente no Brasil, ajuda a que a política passe mais despercebida nos tópicos de conversa e nos interesses de publicação das figuras públicas. Ainda assim, nota que a “entrada do Chega no contexto português” acabou por trazer algumas mudanças: fala-se mais de política, mas sempre no tom de crítica ao partido de André Ventura. Porém, pouco ou nada mudou na hora de uma celebridade se aliar a um partido, pois, continua o especialista, continua a não querer esse “compromisso” ou essa “ligação”, que nos tempos digitais é eterna. E um exemplo recente disso é Quim Barreiros, que tocou num comício do Chega e foi alvo de duras críticas (mesmo tendo doado, ainda antes da atuação, o cachê a uma associação de invisuais, como revelou o artista ao Jornal de Notícias).  

Há convites para as figuras públicas entrarem em [campanhas] autárquicas, por exemplo, mas ficam conotadas a um partido e isso tem um impacto muito grande, como aconteceu com o falecido Nuno Graciano, que teve de se explicar muitas vezes [a sua ligação ao Chega]”, diz o Bruno Ferreira Costa.

Quem estuda política aponta o mercado artístico português, pequeno e dependente de apoios públicos, como o principal fator para que não haja um envolvimento mais direto das celebridades, sobretudo à direita. E que “estes episódios vão afastando os outros” famosos e que a própria “seriedade na política faz com que partidos não procurem de forma muito ativa estes agentes”, adianta o politólogo.

“Temos uma economia pequena, um modelo de apoio à cultura, à arte e ao desporto muito frágil e muito dependente dos apoios políticos, dos convites das autarquias para festas populares, para concertos. Percebe-se que, num contexto de menor escala e em que há uma tão grande dependência destes apoios públicos, haja um receio de assumir essa visibilidade e um posicionamento político”, esclarece Bruno Ferreira Costa, embora reconheça que “no setor das artes e audiovisual, o posicionamento ideológico está mais alinhado para a esquerda. Na campanha eleitoral verificamos isso em dois partidos, o PCP e o Bloco de Esquerda, [com artistas] a anunciar publicamente que apoiam esses projetos, mas esse é um apoio suave, um apoio mais subtil, está lá o nome, a cara, mas não há a necessidade de uma presença regular nos comícios ou nas redes sociais”.

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Manuel Luís Goucha garante que nunca se “inibiu” de apoiar publicamente um partido ou um candidato. Créditos: TVI

A pequenez do mercado artístico português é, para Manuel Luís Goucha, o maior entrave para uma figura pública hastear a bandeira do partidarismo. O apresentador da TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal) foi um dos assinantes do manifesto de apoio a Luís Montenegro e apressa-se a dizer que a realidade portuguesa é muito distinta da norte-americana. “O nosso país é pequeno, o mercado é pequeno”, adianta. E, por isso, Manuel Luís Goucha reconhece que “haverá algum receio” por parte das figuras públicas em associarem-se à política e sobretudo a partidos. 

 “Ao posicionarem-se no partido A, quando o B chegar ao poder vão ter mais dificuldades” a nível de trabalhos, acrescenta Nelson Ribeiro, doutorado em Ciências da Comunicação e diretor da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica de Lisboa.

Redes sociais: o ganha-pão que fala mais alto do que a opinião

As redes sociais são as novas conversas de café, uma forma rápida e fácil de se dizer o que se pensa, de passar uma mensagem, até a política. Há quem o faça com afinco, como é o caso da Maria Vieira, várias vezes bloqueada ou suspensa nas plataformas da Meta e na rede social X, antigo Twitter, pelo seu discurso tido como polémico. A agora ex-atriz, que entretanto voltou com novas contas online (à exceção do X, onde continua suspensa), diz-se prejudicada profissionalmente por defender nas redes sociais aquilo em que acredita.

Omiti durante muito tempo as minhas convicções políticas porque receava que me acontecesse aquilo que me aconteceu em 2016, mas devo confessar que se fala pouco de política no meio artístico; a maioria dos atores só falam de sexo, de fama e de dinheiro e sobretudo falam mal uns dos outros”, começa por nos dizer Maria Saldanha, atual deputada do Chega em Cascais e conhecida no mundo artístico como Maria Vieira.

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Em respostas enviadas por escrito, Maria Vieira diz-nos que “é um facto indesmentível” que deixou de trabalhar no meio artístico, “não apenas em Portugal, mas também no Brasil”, “por assumir”, em 2016, as suas “posições políticas conservadoras e de direita”, dando como exemplo o alegado afastamento de uma produção brasileira em 2022, à data assumidamente apoiante do partido de André Ventura. 

“Fiquei a saber que a direção da emissora tinha recusado a minha contratação” sublinha Maria Vieira, adiantando que a recusa estaria, alegadamente, ligada ao facto de se ter recusado a tomar a vacina contra a covid-19. Na realidade, a direção da Globo vetou a minha participação porque entretanto descobriu, ou foi informada, das minhas posições políticas, do facto de eu ser deputada do Chega e de eu ser uma apoiante do presidente Bolsonaro. Até porque eles nunca me perguntaram se eu me sujeitava a ser vacinada para fazer a novela, algo que de resto eu não faria por nada deste mundo”, conta-nos, lembrando o rol de críticas que recebeu, até por parte de outras figuras públicas e colegas de profissão, “muitos outros que se diziam meus amigos”. 

A agora deputada municipal acredita que a sua história teria sido diferente se não fosse apoiante do partido de André Ventura. “Se fosse de esquerda e apoiasse o PS, o PSD, o PCP ou o BE, jamais seria ostracizada e cancelada no meio artístico”, atira. 

“É capaz de ser incómodo para as muitas pessoas manifestar as opiniões tendo em conta as redes sociais”, diz-nos Manuel Luís Goucha, referindo-se à rapidez com que surgem comentários, nem sempre fundados, e críticas a opiniões distintas de quem as lê. “Vivemos num país pequeno, em que as pessoas estão condicionadas à opinião dos outros que é veiculada pelas redes sociais”, continua o apresentador.

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O apresentador, que conta com quase um milhão de seguidores no Instagram, garante que tem “a política em muito boa conta” e foram já várias as vezes em que se manifestou política e partidariamente: em 2021, presidiu à comissão de honra da candidata do PSD Suzana Garcia à Amadora, mas também já apoiou Aníbal Cavaco Silva, José Sócrates e António Costa, como lembra a revista Visão. “Nunca me inibi publicamente sobre quem apoiava”, vinca. “Politicamente estou ao centro, sou PSD”, diz-nos, garantindo que se mantém “isento” em todas as entrevistas que faz. E quem o acompanha sabe que entrevista tudo e todos, sem exceção. E, garante, quem o segue sabe o que defende. Ainda assim, Manuel Luís Goucha desativou os comentários das suas redes sociais quando assinou o manifesto de apoio ao atual primeiro-ministro. “Respeito a opinião de qualquer pessoa”, garante, mas diz que já não tolera opiniões infundadas e críticas gratuitas. “Desativei os comentários porque os negativos são básicos, tóxicos, vis e rasteiros, não tenho tempo e paciência para ler comentários de baixo nível”, justifica.

O fator ‘eternidade’ que a internet oferece e as críticas instantâneas que surgem acabam também por ser um dissuasor das manifestações políticas públicas, até lá fora. Em 2020, Dwayne ‘The Rock’ Johnson apoiou publicamente Joe Biden e quis deixar claro que não o faria este ano. E não o fez porque a sua posição política de há quatros anos causou muita divisão entre os fãs. 

Maria Saldanha, conhecida no mundo artístico como Maria Vieira, é deputada municipal do Chega. Deixou a representação no ano passado e diz ter perdido trabalhos devido à sua posição política. Créditos: Arquivo pessoal de Maria Saldanha

Entretanto, Maria Saldanha retirou-se da vida artística em 2023, mas admite que o fez por estar financeiramente estável, podendo abdicar dos trabalhos na representação. “Eu, graças a Deus, trabalhei durante 40 anos em Portugal, no Brasil, em França e na Alemanha, ganhei dinheiro e soube poupar e investir para poder chegar a esta altura da minha vida e poder dizer quem sou, como penso e como ajo sem me preocupar com o meu futuro financeiro”, assegura.

A parte financeira é, segundo os especialistas, uma das que mais pesa para que em Portugal as figuras públicas não se envolvam tanto na política como acontece, por exemplo, nos Estados Unidos, em que a associação a um determinado partido ou candidato pode até ser vantajosa. Por cá, há já uma ligação financeira – em alguns casos de peso, até – com as redes sociais, fonte de rendimento com a promoção de marcas e produtos, o que pode resultar em mais uma barreira para que as figuras públicas, sejam elas artistas, apresentadores, músicos ou até influenciadores digitais, falem de política no meio artístico e do entretenimento. 

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Nelson Ribeiro volta a bater na tecla do “mercado pequeno”. “Muitas vezes, [estas pessoas] têm como fonte de receita o trabalho para determinar marcas e as marcas têm relutância em expressar um posicionamento político”, diz, frisando que o inverso também acontece: as figuras públicas inibem-se de se colar a um partido ou a uma marca, como aconteceu recentemente com a Prozis, lembra. “O caso da Prozis é interessante, pois mostra como, de facto, quando há influenciadores que estão ligados a uma marca que representa causas, como é que isso os atinge. E é este cálculo que é feito por essas figuras públicas no que toca à política”, adianta o especialista em Media e Entretenimento.

Mas Bruno Ferreira Costa vê uma oportunidade neste mundo digital, mesmo que altamente inflamável. O politólogo vê potencial nas ‘novas celebridades’, os chamados influenciadores digitais, defendendo mesmo que o poder que têm junto de um público mais jovem “poderia ser aproveitado de uma melhor forma pela Comissão Nacional de Eleições com campanhas direcionada para targets mais abstencionistas”, à semelhança do que aconteceu, por exemplo, com Taylor Swift, “que pediu apenas aos jovens para se registarem” para votar.

No entanto, o docente na Universidade da Beira Interior lembra que “não temos a dimensão política-espetáculo ou política-entretenimento que os Estados Unidos têm” e, que por isso, esta nova realidade teria de ser bem trabalhada. 

Ventos de mudança?

Este ano, Ana Markl assumiu “pela primeira vez” uma posição partidária ao assinar o manifesto de apoio ao Bloco de Esquerda para as legislativas de março e ao participar numa entrevista conjunta com Carolina Torres e Kiko is Hot conduzida por Mariana Mortágua transmitida no YouTube. Também conduziu uma entrevista a Catarina Martins e a Mariana Mortágua, para as redes sociais do Bloco de Esquerda, a propósito do 25 de abril. 

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A radialista e humorista garante que “sempre” exprimiu opiniões e defendeu causas “com muita liberdade”, reconhecendo ter tido “a sorte de trabalhar sempre em lugares de liberdade, em que as minhas visões políticas foram sempre respeitadas”. Ana Markl fundou o canal Q, fez parte da Antena 3 e tem o podcast Voz de Cama, com a psicóloga e sexóloga Tânia Graça, onde fala abertamente de relações, sexo e género. E não tem dúvidas: “Tudo é política”.

A também guionista considera que hoje “não há o fulgor partidário de outros tempos” e, por isso, “não há muito interesse nesse tipo de compromisso para as figuras públicas, nem como forma de personal branding”. Mesmo aquelas que têm um “discurso muito convicto e coerente, claramente à esquerda ou claramente à direita”, querem “ter a liberdade para escolher consoante o momento político, mais aqui ou mais ali, como numa espécie de buffet ideológico”, sem qualquer vínculo a um partido. Mas Ana Markl admite que a conjuntura política atual pode trazer ventos de mudança nesta relação das figuras públicas à política.

“Talvez isso venha a mudar – como, aliás, mudou para mim, que nunca tinha apoiado publicamente um partido até às últimas legislativas, mas senti que desta vez, perante o cenário político, era o mínimo que podia fazer”, revela.

Ana Markl considera que, atualmente, “a política portuguesa não tem o apelo pop que têm as eleições americanas ou que tiveram as eleições que opuseram, por exemplo, Mário Soares e Freitas do Amaral, em 1986”, em que “os músicos faziam hinos de campanha, assumindo uma posição partidária clara”. Mas admite: “Também é verdade que esse apoio se torna mais imperioso quanto mais polarizada é a situação”.

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Sobre este ponto, em que a polarização e até o combate à mesma se torna fulcral em algumas democracias, o politólogo Bruno Ferreira Costa volta ao exemplo de Taylor Swift, defendendo que é um exemplo onde pode, de facto, haver uma maior mobilização até mesmo contra a abstenção. A artista nunca se pronunciou sobre política até 2020, quando assumiu o seu apoio a Joe Biden na disputa contra Donald Trump. Para o politólogo, “há uma responsabilidade de promover uma sociedade mais ativa e mais participativa do ponto de vista político” e celebridades como Taylor Swift podem fazer a diferença, mais não seja numa maior ida às urnas.

Quanto a este eventual poder que as figuras públicas podem ter na vida política dos cidadãos, Ana Markl defende que “haverá certamente problemas mais estruturais por detrás da abstenção e não sei se o nosso star system (por assim dizer) terá alguma vez o poder de os resolver. Mas tenho a certeza de que a demonstração de uma consciência política só oferece mais alimento para o pensamento de quem admira essas figuras públicas. E isso nunca fez mal a ninguém, muito pelo contrário”.

Mas há casos em que uma posição acaba mesmo por ser criticada ou até ignorada e algumas celebridades têm consciência disso mesmo, que nem todas as pessoas esperam que uma figura pública fale de política ou de causas. Exemplo disso é a cantora anglo-albanesa Dua Lipa, muito vocal em causas (sobretudo pelo fim do combate na Faixa de Gaza e no ataque ao “genocício” levado a cabo pelos israelitas no enclave, segundo palavras da própria) e também na política. Este ano, Dua Lipa disse que estaria sempre do lado dos trabalhistas e apelou ao voto neste partido, porém, a cantora sabe que o público não espera que ela ou outros artistas sejam agentes políticos. “Não sei se as pessoas acham que não leio livros. Não querem que sejamos políticos. Não querem que sejamos inteligentes. Há muito mais em mim do que aquilo que faço”, disse a cantora em entrevista à Rolling Stone, na qual deixa claro que a política está em todo o lado. “A minha existência é política. O facto de viver em Londres deve-se aos meus pais terem sido obrigados a fugir da guerra”.

Os movimentos digitais são o novo “ir para a rua gritar”

Para os especialistas, uma das formas de se mostrar uma posição política em Portugal – sem se ser necessariamente conotado a um partido, mas sim a uma figura política – é sendo mandatário, membro da comissão de honra ou apoiante de ‘primeira linha’ a candidatos presidenciais, como foi, por exemplo, a fadista Kátia Guerreiro, em 2006, em apoio a Aníbal Cavaco Silva, ou de Pedro Abrunhosa, membro da comissão de honra de Manuel Alegre nas presidenciais desse mesmo ano. Os manifestos de apoio são também uma forma recorrente de as figuras públicas fazerem política e marcarem até uma posição partidária, como é o caso de Joana Vasconcelos, que assinou no início do ano o manifesto de apoio ao Partido Socialista e a Pedro Nuno Santos, mas também já o tinha feito em 2022 e 2014 em apoio a António Costa. A artista participou ainda numa convenção socialista em 2009 e, recentemente, no podcast Geração 70, do Expresso, falou abertamente dos seus ideais políticos de esquerda. Ou de Sérgio Godinho que, em 2019 e 2024, assinou os manifestos de apoio ao Bloco de Esquerda.

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Mas agora também se é politicamente ativo defendendo causas online, algo que a radialista e humorista Ana Markl diz que “sem dúvida que é uma forma de fazer política e que diz muito sobre o tempo que vivemos”. 

Nas eleições presidenciais de 2021, e em resposta à polémica declaração de André Ventura sobre os lábios pintados de Marisa Matias, figuras públicas como José Condessa, Cláudio Ramos, Albano Jerónimo, Rui Maria Pêgo, Jorge Corrula, David Fonseca, José Carlos Malato, Pilar Del Rio juntaram-se ao movimento #VermelhoemBelem (que foi notícia em Espanha), no entanto, nenhuma destas personalidades afirmou publicamente apoio ou que iria votar na candidata do Bloco de Esquerda, fizeram-no em tom de condenação à postura do candidato e presidente do Chega, tendo até a também candidata presidencial Ana Gomes aderido e sido uma das primeiras a fazê-lo. Bruno Nogueira escreveu mesmo no Instagram: “Não tem nada que ver com cores. Tem que ver com democracia. Dia 24. Votem.”

 

 

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Manuel Luís Goucha defende mesmo que é este tipo de movimentos que pode aproximar mais as figuras públicas à política ou à defesa de um estado democrático. “Esse movimento poderia estar mais ligado à esquerda mais radical, mas é um movimento mais abrangente, não importa a cor partidária, é mais pelos direitos humanos”, diz.

São movimentos virais, passam muito pelas redes sociais, impelem-nos a fazer parte. E, desde que as pessoas estejam realmente informadas para cavalgarem essas ondas com propriedade, acho ótimo. É o novo “ir para a rua gritar””, destaca Ana Markl.

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Nada ativo nas redes sociais, o humorista Ricardo Araújo Pereira acaba por apresentar uma outra forma de marcar uma posição política. O seu lado comunista nunca foi escondido – e falou recentemente dele no podcast Geração 70 (um espaço onde o jornalista Bernardo Ferrão questiona sempre as figuras públicas convidadas sobre política), mas Ricardo Araújo Pereira acaba por fazer política ao recusar convidar qualquer elemento do Chega para o seu programa de humor político. Em entrevista ao Observador, quando questionado sobre o porquê de não convidar o Chega, dá uma resposta simples e direta: “Porque não quero”. O humorista defende que “quem apresenta programas de entretenimento, quem os concebe, tem o direito de escolher quem é que convida. A liberdade é isso: é eu convidar quem me apetece e não convidar quem não me apetece”, além de que defende que “a democracia é de facto um sistema simpático e eu não creio que do lado do Chega haja a mesma posição”.

Ana Matos Fernandes, mais conhecida como Capicua, não se assume de partido A ou B, mas é voz ativa na crítica política, aproveitando o seu espaço de opinião no Jornal de Notícias para se opor à extrema-direita, tendo escrito sobre França, sobre o polémico livro Identidade e Família e até sobre o discurso de ódio em Portugal, numa clara alusão ao Chega – “cinquenta deputados, corroborando ideias preconceituosas no Parlamento, agasalham as costas aos que, na rua, querem exercer pela força a sua agenda racista”, lê-se.

No mundo do desporto são poucas as vezes em que há um cruzamento com a política, sobretudo no futebol. Ainda assim, há um ou outro caso sonante, como a recente declaração do futebolista Kylian Mbappé. Este verão, o jogador usou uma conferência de imprensa de antevisão a um jogo para o campeonato europeu de futebol para trazer a política para o campo. Dias antes de os franceses irem às urnas para eleger um novo governo, o avançado apelou ao voto e, de forma indireta, ao combate à extrema-direita, à data apontada como potencial vencedora do sufrágio, mas que viria a perder para uma coligação de esquerda e para o partido de Emmanuel Macron.

Por cá, o caso mais mediático no mundo do desporto foi mesmo o de Ricardo Quaresma que, em 2020, insurgiu-se contra André Ventura que, na altura, era crítico à comunidade cigana –  o que levou mesmo outras figuras públicas a assinar um documento de repúdio às afirmações do presidente do Chega.

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Lá fora, a adesão a movimentos – seja em prol de direitos humanos e democráticos ou como condenação a determinadas figuras e ideologias – é também uma realidade lá fora. “Mesmo nos Estados Unidos estamos já numa fase em que há muitas figuras públicas vêm a público pela via das causas, apoia-se um determinado candidato porque defende determinadas causas”. E é a defesa da democracia a mais transversal a todos os países.

Nos Estados Unidos, onde as eleições acabam sempre por ser mais globalmente mediatizadas, as celebridades tendem a ser muito mais vocais e abertas a apoios diretos a partidos, mas há também quem opte por fazer política de forma diferente: ao invés de apoiar um candidato ou partido em si, atacam um candidato ou o programa eleitoral do mesmo, tal como disseram recentemente os atores Mark Ruffalo e Joseph Gordon-Levitt. Ruffalo publicou na rede social X um vídeo viral no qual critica o Project 2025 de Donald Trump e Gordon-Levitt juntou-se ao movimento ‘white dudes for Kamala’ (sendo que, em 2020, já tinha chamado Donald Trump de “déspota”). 

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