A Feira da Cultura de Santarém foi a mesa usada nas últimas 24 horas por Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro para novo pingue-pongue sobre quem quer mais dialogar e quem quer menos a segurança política.
Depois desta quinta-feira ter pretérito pelo torneio, escoltado pelo Presidente da República, o primeiro-ministro atirou contra o PS, garantindo que o Governo da Confederação Democrática continuar a governar quer haja, ou não, convergência com a oposição.
Montenegro respondeu assim às acusações do líder parlamentar socialista, que, na véspera, tinha criticado o executivo por pretender contornar o Parlamento através de autorização legislativa que evitassem ter de “apresentar propostas de lei” aos deputados. Alexandra Leitão respondeu, pela sua vez, ao ministro dos Assuntos Parlamentares, que havia culpado o PS de pôr em desculpa a governação com a aprovação de medidas no Parlamento contra a vontade do executivo.
“Acha mesmo que os portugueses querem saber se as propostas do Governo são propostas de lei ou propostas de autorização legislativa?”, questionou Montenegro em resposta às perguntas dos jornalistas. E acrescentou: “Eu questionei se é nisto que se concentram os agentes políticos. Se é, eu desejo-lhes felicidade para essa tarefa, porque a minha é dissemelhante. A minha é a vida concreta das pessoas, é a solução dos problemas das pessoas.”
Já ao final da manhã desta sexta-feira, Pedro Nuno Santos reagiu à reação do primeiro-ministro, garantindo ter ouvido “com preocupação” a tirada de Luís Montenegro, contrapondo que no PS existe “disponibilidade para erigir essa convergência” e que se a a mesma coisa não está a ser promovida é por indisponibilidade do Governo.
O líder socialista aduziu dois argumentos para fundamentar a preocupação do partido. “Quando o senhor primeiro-ministro diz que governa a pensar na vida concreta dos portugueses, agora não é verdade. Temos visto a um conjunto de medidas vendidas uma vez que sendo destinadas à classe média, mas que só beneficiam, ou beneficiam muito mais, uma minoria a que oriente Governo labareda ‘classe média’”, afirmou, em declarações transmitidas pela RTP3, numa clara referência à proposta inicial de PSD e CDS para os escalões do IRS.
O segundo argumento usado por Pedro Nuno Santos diz saudação ao que considera a indisponibilidade de Montenegro, para além de proclamar querer dialogar, passar das palavras aos actos.
“Reiteradamente o senhor primeiro-ministro mais uma vez vem confirmar que não está interessado em envolver o Parlamento, envolver a oposição (…). Isso é preocupante, porque temos na pessoa do primeiro-ministro o principal agente da instabilidade política em Portugal (…). Não tem nenhuma vontade de erigir o que quer que seja com o PS, mesmo não tendo uma maioria para viabilizar a sua governação”, disse.
Para Pedro Nuno Santos provou disso é que o executivo se prepara para concordar no Parecer de Ministros desta sexta-feira medidas destinadas a tornar a curso docente mais atrativa.
“O Orçamento já está comprometido hoje sem qualquer negociação [com a oposição]temos um governo a não querer passar pelo Parlamento um conjunto de iniciativas legislativas”, continuou o secretário-geral do PS, que criticou a vontade do executivo, noticiada esta sexta-feira pelo Expressode “virar algumas medidas que foram aprovadas no Parlamento” no Orçamento do Estado para 2025.
“Há alterações legislativas e fiscais aprovadas no Parlamento que, aparentemente, o Governo está a estudar uma vez que pode virar em sede orçamental”, referiu.
Lamentando que Montenegro esteja “sempre à procura de responsabilizar os partidos da oposição pela instabilidade política”, Pedro Nuno afirma que “o primeiro-ministro vai mostrar que não está zero interessado em ter segurança política”. E acentuado: “[Dessa forma o Governo está a contribuir para uma] crise política que todos devíamos querer evitar.”
Pedro Nuno Santos alerta que o “Governo não se pode comportar uma vez que se tivesse maioria absoluta” e que o PS não aprovará de cruz as medidas pretendidas pelo executivo sem que haja negociação prévia: “Isso não vai sobrevir nunca.”
Já no briefing do Parecer de Ministros realizado no início da tarde desta sexta-feira, o ministro da Presidência continuou a troca de farpas, frisando que o compromisso do Governo passa por “resolver problemas independentemente dos ciclos políticos e independentemente das tentativas de bloqueios que os outros podem fazer”.