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Portugal celebrou nesta quinta-feira (25) o 50º natalício da Revolução dos Cravos, um movimento militar que acabou com quase meio século de ditadura e abriu o caminho para a democracia e a independência de suas colônias na África.
Ponto superior de centenas de iniciativas institucionais e culturais programadas ao longo de várias semanas, a quinta-feira começou com um desfile militarcom a participação de veículos blindados da estação da Revolução, restaurados para o natalício.
No término do dia, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa receberão os homólogos dos países africanos que conquistaram a independência posteriormente a Revolução: Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Virente e São Tomé e Príncipe.
Recentemente, o presidente português surpreendeu ao abordar possíveis reparações devido ao período colonial.
“Temos que remunerar os custos. Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver uma vez que podemos reparar isso”, declarou o presidente na terça-feira em uma conversa informal com uma prensa internacional.
O novo governo de direita, formado posteriormente as eleições do mês pretérito, criticou imediatamente a teoria. “É um tema tóxico e inoportuno”, afirmou manadeira governamental citada pelo jornal Expresso.
– “Orgulho da história” –
Na sessão solene no Parlamento desta quinta-feira, o presidente não fez nenhum observação sobre a questão.
O líder da extrema direita André Ventura foi o crítico mais veemente, acusando Rebelo de Sousa de ter “traído os portugueses”. “Remunerar o quê? Remunerar quem? (…) Tenho orgulho da história deste país”, concluiu.
As comemorações dos 50 anos da chegada da democracia a Portugal acontecem em um contexto marcado pelo progressão da extrema-direita, depois que o partido Chega se tornou a terceira força política no país, com 18% dos votos.
Para 65% dos entrevistados numa pesquisa recente, a Revolução de 25 de Abril é o evento mais importante da história de Portugal.
“Eu tinha 20 anos no dia 25 de abril, isso impediu que eu fosse enviado para a guerra, foi muito importante para mim”, declarou, emocionado, Manuel Lima, um emérito que assistiu ao desfile militar desta quinta-feira.
“A principal motivação era resolver o problema da guerra colonial”, recordou à AFP o coronel da suplente Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril, herdeira do “movimento dos capitães”, que especifica a revolução.
Em 1974, as tropas portuguesas já travavam combates há 13 anos em Angola e quase uma dezena em Moçambique e na Guiné-Bissau.
Os jovens suboficiais demoraram quase um ano para preparar uma “conspiração” e executar “um golpe de Estado que pretendia perfurar o caminho para a liberdade, findar com a guerra e erigir a democracia em Portugal”, afirma.
No dia 25 de abril de 1974, o regime dominador mais idoso da Europa ocidental caiu em questão de horas, praticamente sem uma pingo de sangue derramada, graças ao escora inopino da população.
O golpe provocou o cancelamento de uma sarau num restaurante, onde um garçonete decidiu repartir os cravos vermelhos destinados à decoração às pessoas nas ruas e aos soldados.
Alguns jovens militares colocaram os cravos nos canos de suas armas, o que transformaram a imagem no símbolo da revolução política, econômica e social.
– “Deus, pátria, família” –
“Foram sobretudo as imagens registradas naquele dia que transformaram o cravo vermelho no símbolo da Revolução de 25 de Abril, dando uma visão romântica, poética, a um ato que tinha muito de heróico, embora a revolução tenha sido principalmente importada”, explica a historiadora Maria Inácia Rezola, que coordena o programa das comemorações.
“Eu pensei que 48 anos de ditadura protegeu o país contra esta vaga de populismo e movimentos radicais de extrema-direita, mas a veras é dissemelhante”, afirmou Rezola.
O regime derrubado em 1974 nasceu com uma ditadura militar instaurada em 1926. Depois de ser nomeado ministro das Finanças, o economista Antonio Salazar liderou o governo entre 1932 e 1968, quando foi substituído pelo professor de Recta Marcelo Caetano.
Durante os anos de chumbo, marcados pelo slogan “Deus, pátria, família”, Portugal se tornou “um país pobre, moroso, ignorante e solitário do resto do mundo”, explica Rezola.
Posteriormente meses de resistência que puderam ter resultado em uma guerra social entre as forças pró-comunistas e as correntes desenvolvidas a uma democracia liberal, o período revolucionário terminou em 25 de novembro de 1975 com uma mediação militar do general António Ramalho Eanes, que no ano seguinte se tornaria o primeiro presidente democraticamente eleito de Portugal.
Outro personagem crucial do período, o socialista Mário Soares, venceu as primeiras eleições livres com votação universal, organizadas em 25 de abril de 1975 para formar a Parlamento Constituinte que redigiria a atual Epístola Magna do país.
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