Com a chegada da chuva e do tempo mais insensível, eu adoro fazer receitas muito aromáticas, sejam doces ou salgadas.
Nascente é o tempo em que as especiarias ganham mais força na minha cozinha e porquê utilizadora intensiva tive de organizar um espaço grande para as vigiar, para não me encherem a bancada.
Problema: tenho demasiadas especiarias e esta gaveta com 60 cm de largura não chegou para tudo. Frascos e frasquinhos, potes e potinhos. Mas cá à mão de semear está o mais necessário, nomeadamente a canela e a erva-doce de que vou precisar para esta receita.
De onde veio esta receita?
Esta receita estava guardada há 4 anos, e foi-me enviada por mensagem privada pelo António Fonseca, um entusiástico seguidor do Facebook, que adora cozinhar para a família:
Olá Clara, a minha Avó fazia estes bolinhos no Outono/Inverno e guardava numa lata para se consumir com chá ou moca à lareira. Tem de os fazer e sentir o cheiro que fica na cozinha… a fazer lembrar a moradia da nossa avó!
Se fosse viva, Joana Barran, a avó do António, teria hoje quase 97 anos. Nasceu em Estremoz numa família em que o sobrenome desvenda a relação familiar estrangeira, por profundidade das invasões francesas no princípio do século XIX, quando um capitão, vindo para lutar, acabou por se enamorar por uma portuguesa e lucrar raízes em pleno Alentejo.
Joana acabaria por mudar-se para Alter do Pavimento, depois o casório. Foi lá que o António nasceu e cresceu, na coudelaria de Alter Real, com uma “puerícia muito feliz” e, porquê me disse:
… onde ganhei o palato pela cozinha com a minha avó e a minha mãe Olívia Mexia. Recordo as noites junto da lareira da cozinha a ver cozinhar estas duas chefs da cozinha tradicional com os cheiros dos temperos a misturarem-se com o fumo da lareira e o cheiro do moca que acompanhava estes deliciosos bolinhos alentejanos.
E o António continuou a fazê-los e a enviar-me fotos porquê esta, para me terebrar o gosto.
Adoro estas receitas que nos transportam ao conforto da puerícia, aos sabores que nos faziam felizes.
Estes bolinhos de óleo alentejanos são muito parecidos com os bolinhos de óleo transmontanos, vulgarmente conhecidos por farta-rapazes, porque em tempos de maior carência, esta receita rendia muito e dava para nutrir a criancice sempre enxurrada de gosto.
Quais os ingredientes?
- Ovos. 4 inteiros e uma gema para pincelar
- Óleo, evidente. Mantém os bolinhos frescos e saborosos durante mais tempo.
- Açúcar amarelo, para mim, na ração certa.
- Canela e erva-doce. As especiarias que dão a estes bolinhos um olência incrível.
- Raspa de um limão. O António diz que leste é o grande sigilo. Não pode faltar.
- Farinha com levedo. Podem usar a vulgar farinha para bolos.
Porquê fazer os bolinhos de óleo da avó Joana?
Fazemos porquê sempre se fizeram – à mão. Basta uma taça e uma colher de pau.
Misturamos todos os ingredientes, à exclusão da farinha, e envolvemos muito muito.
Depois começamos a envolver a farinha até ficarmos com uma tamanho levemente peganhenta, mas que se untarmos as mãos já não cola. Não convém usar farinha a mais para que a tamanho não fique muito seca. Por isso, é melhor ir juntando pouco a pouco até percebermos que a tamanho está no ponto.
Agora só temos de fazer bolinhas e colocá-las em tabuleiros forrados com papel vegetal levemente untado com óleo. Podem fazer bolinhas mais pequenas, com murado de 35 a 40 g de tamanho cada, ou bolas maiores com o duplo da tamanho, porquê fiz cá.
Com o forno já a pré-aquecer para os 180º C, pincelamos o topo dos bolinhos com gema desfeita numas gotas de chuva ou leite…
… e daqui seguem para o forno onde ficam até dourar – será entre 15 e 20 minutos. Os meus ficaram 20, mas porquê cada forno tem um comportamento dissemelhante, o melhor é ficarem de olho. Não vale a pena dourarem em resto para não secarem muito. Uma corzinha dourada é suficiente.
Quanto ao maroto – sempre em cima da bancada, mas à intervalo – portou-se muito neste dia, mas quando acordei de manhã já tinha biscoitos roídos espalhados pela moradia. Não é a primeira vez que leste gato me leva o que tenho na bancada – de bifes a peixes e agora biscoitos. Ai Rissol….!
Ele roeu e eu dei uma valente dentada só para vos mostrar o interno.
Estes bolinhos devem ser feitos de véspera porque, tal porquê outros bolos com óleo, sabem muito melhor no dia seguinte e no seguinte a esse. Apuram. É verdade!
Querem ver a receita escrita com todos os pormenores?
Continuem a descer, que ela está logo depois do video e até a podem imprimir.
Gostam de bolinhos com óleo? Espreitem estas receitas.
BOLO RÁPIDO DE AZEITE E LIMÃO - Simples e rápido, macio e saboroso, leste bolo faz-se numa tigela à mão, em minutos, sem máquinas nem complicações.
BOLO DE BANANA E AZEITE COM CANELA E LIMÃO (PARA DIABÉTICOS E NÃO SÓ) - Banana e óleo são a conjugação perfeita para a textura e suculência deste bolo que dura dias e que todos podem consumir.
BOLO DE DIÓSPIRO E ESPECIARIAS - Os dióspiros dão a mel e humidade e as especiarias lançam um olência inebriante. Cada dentada será um momento de puro prazer a lembrar-nos que estamos no Outono.
Vão fazer esta receita?
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