![](https://i0.wp.com/img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2024/06/shutterstock_1637788606-1.jpg?w=1024&ssl=1)
Eis um texto que pode cevar discussões acaloradas. Por isso vou tentar deixar tudo explicado. E, antes de encetar, destaco que sou um padroeiro dos EVs. Apesar de nunca ter dirigido um, adoro a teoria de estar num veículo soturno, sem o fragor poderoso do motor. Mas voltemos.
A professora Adriana Marotti de Melo, da Faculdade de Economia, Gestão, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP, coordena um negócio chamado Mobilab. É o Laboratório de Estratégias Integradas da Indústria da Mobilidade, da Universidade de São Paulo. Ou seja, ela é uma técnico no tema.
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Pediram recentemente à professora que opinasse sobre o mercado de elétricos cá no Brasil. Um pouco que parece gatinhar ainda, apesar do prolongamento nas vendas da BYD nos primeiros meses deste ano.
Estamos muito detrás da China, por exemplo, que aposta na substituição dos veículos a esbraseamento pelos elétricos puros – e eles estão muito adiantados nesse processo. Alguns países europeus seguem pelo mesmo caminho. Já os Estados Unidos abraçaram uma transição mais lenta, apoiada ainda por muitos modelos híbridos.
O Brasil? Muito, o Brasil engatinha, porquê já disse. Agora, segundo a professora, isso não é um problema necessariamente. Não deveria nem ser uma preocupação hoje em dia. Ela explica que nós poluímos menos que todos os outros citados supra. Isso mesmo se eles implantarem os veículos elétricos.
![carro elétrico](https://i0.wp.com/img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2024/04/vendas-ev-1024x682.jpg?resize=640%2C426&ssl=1)
Quem polui mais?
Sim, pode reler a última frase do último parágrafo. Você pode estar se indagando: mas porquê um veículo elétrico, que não solta fumaça, polui mais que um sege nosso cá do Brasil, que solta?
A resposta tem a ver com alguma coisa que se labareda matriz energética. O etanol brasílio polui menos que a gasolina. E não há porquê discordar disso. E, sim, um sege elétrico, movido a bateria, polui menos que um veículo que bebe etanol.
Mas de onde vem a vigor para recarregar essa bateria? Eis o x da questão. Na Europa, a matriz energética vem, principalmente, do petróleo e do gás. Ou seja, você pode renovar mais da metade da sua frota, mas ainda assim vai continuar poluindo, em números gerais, mais do que o nosso etanol à base de cana-de-açúcar.
Seguindo nessa lógica, a nossa matriz energética é limpa – uma das mais limpas do mundo. Mais de 50% da eletricidade gerada no Brasil vem das hidrelétricas, ou seja, da força da chuva. Existe uma parcela significativa de petróleo nessa conta, mas é infinitamente menor do que na Europa.
Partindo da premissa ambiental unicamente, sim, se toda a frota brasileira fosse elétrica, nós poluiríamos muito menos. Mas no mundo real o numerário manda, e isso pode ser diferido por um tempo. Ainda mais no Brasil, um país que está longe de ser considerado rico. E onde mais de 60% da população vive com até um salário mínimo por mês, segundo dados do IBGE.
![Cientista manipulando amostras de etanol em laboratório](https://i0.wp.com/img.odcdn.com.br/wp-content/uploads/2023/06/etanol-em-laborato%CC%81rio-1024x683.jpeg?resize=640%2C427&ssl=1)
O que a professora sugere
- Vale realçar que ela não é essencialmente contra os veículos elétricos.
- Mas não acha inteligente penetrar mão de toda a estrutura que já construímos em torno do etanol.
- Sem recontar que a própria tecnologia do álcool combustível pode ainda ser aprimorada.
- A professora defende que o nosso transporte público seja transformado em elétrico.
- Hoje, grande segmento das cidades brasileiras têm ônibus circulando pelas ruas.
- E eles são movidos quase sempre a diesel, que polui mais que a gasolina.
- Segundo ela, trocar os ônibus por elétricos é mais fácil e mais barato do que trocar toda a frota de carros particulares.
- E iríamos poluir menos, gastando menos também.
- Para isso será necessário muito investimento público – e um conjunto de políticas próprias.
Porquê disse, vale um bom debate. Se quiser ler mais sobre o tema, a Stellantis – gigante dona das marcas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën – conduziu um estudo no ano pretérito que traz as mesmas ideias. E você pode ver os números que demonstram porquê o nosso etanol polui menos do que EV europeu. Você pode acessar a pesquisa neste link cá.
As informações são do Jornal da USP.