Desde o início da idade adulta que ouço frequentemente que os jovens não querem saber de política. E de facto, poucos são aqueles que fazem segmento de juventudes partidárias ou estão diretamente ligados às estruturas políticas tradicionais. Por outro lado, são a geração mais formada de sempre e que buscam nutrir o seu pensamento crítico fora dos círculos político-partidários.
Segundo o relatório da Fundação Calouste Gulbenkian, a participação dos jovens é muito viva, mas diverge das formas de sentença política de maneira útil. Esta é uma geração que cresceu fazendo segmento de associações e coletivos. Utilize esses grupos para poder reivindicar suas causas e desenvolver um sentimento de pertença geral, ao mesmo tempo que desenvolve importantes competências de liderança. Ouvem podcasts não Spotifyfazem vídeos informativos para o tiktok, organizar debates em direto no Instagram e dedicam-se ao observação político de 280 caracteres no Twitter (real X), reinventando as formas de participação cívica e ajustando-as ao nosso tempo.
Estes são os jovens que cresceram a ouvir os seus avós a falarem sobre as conquistas de abril, as primeiras eleições e os anos de azáfama política que se seguirão. Estudaram a ditadura através dos livros de história e foram obrigados a saber de cor os protagonistas que nos trouxeram à democracia que ainda hoje preservamos. Esses protagonistas, aqueles que nos prometeram que a universidade nos iriam dar um porvir melhor, foram os mesmos que se esqueceram de nos dar uma oportunidade de contribuir para o porvir político do nosso país.
Diogo Freitas do Amaral, com 34 anos (Núcleo Democrático Social), Jerónimo de Sousa, com 29 anos (Partido Comunista Português), Marcelo Rebelo de Sousa, com 27 anos (Partido Social Democrata) e Carmelinda Pereira, com 27 anos (Partido Socialista) ) foram alguns dos deputados eleitos para a Câmara Constituinte de 1975 e que fizeram segmento da redação e aprovação da atual Constituição da República Portuguesa. Estes nomes, ainda hoje reconhecidos no quadro político pátrio, representavam a força jovem da estação, estando nas linhas da frente dos seus partidos e fazendo segmento de uma geração inconformada que triunfou sobre a ditadura.
Por outro lado, para a geração mais comprometida de sempre, é evidente que os partidos que foram fundamentais para o renascimento da democracia já não atendem às expectativas que esta novidade geração traz consigo. Pouco ajustados aos desafios do século XXI, os partidos tradicionais continuam a tentar superar os problemas que já deveriam ter sido superados desde o milênio pretérito. Uma vez que resultado, grande segmento de sua escolha junto ao eleitorado jovem perdeu, o que dificulta sua capacidade de atrair para as estruturas políticas eficientes.
Por isso mesmo, os protagonistas dos jovens portugueses têm vindo a mudar. Segundo um estudo realizado por dois analistas políticos com base nas sondagens à boca das urnas em 2022, os partidos com assentos parlamentares preferidos dos mais novos, em ordem decrescente de votação, foram: Iniciativa Liberal, PAN – Pessoas – Animais – Natureza, Livre, Chega e Conjunto de Esquerda. Quase todos eles, partidos mais novos fazem que a idade mínima para se poder votar em Portugal.
Estes partidos, situando-se à margem dos principais círculos políticos que contribuíram para o ressurgimento da democracia, adotam abordagens mais disruptivas. Livres das amarras do eleitorado mais envelhecido e ainda não suficientemente enraizados no sistema para desenvolver os vícios políticos típicos dos grandes partidos, usam as redes sociais, participam em podcasts e adaptam a sua linguagem à juventude. Demonstram um interesse genuíno nas preocupações centrais desta geração, incentivando a participação de jovens uma vez que candidatos de seus partidos.
Assim, uma solução para reintegrar os jovens na participação político-partidária poderá passar por ter cotas para jovens nas listas de candidatos eleitorais. Embora as cotas de discriminação positiva sejam controversas, são muitas vezes possíveis para combater um sistema invejado. Paralelamente, seria profícuo fabricar mais iniciativas que envolvessem os jovens desde cedo em instituições políticas uma vez que o parlamento e os ministérios, à semelhança do que acontece nas instituições europeias. No contexto da instrução, é crucial promover uma maior alfabetização sobre o funcionamento dos sistemas eleitorais, garantindo que esse conhecimento não fique restrito aos mais específicos. Por último, iniciativas uma vez que o Parlamento dos Jovens, puderam ser replicadas junto dos cidadãos com mais de 18 anos, aproveitando a maioridade política para despertar ainda mais a sua consciência cívica.
A impassibilidade política dos jovens portugueses é um mito. Os jovens querem saber de política, só não querem praticar os mesmos moldes que as suas avós desenharam. Querem sentar-se à mesa na discussão e sentir que as suas ideias são ouvidas e valorizadas. Só assim conseguiremos voltar a trazer os mais novos para as principais decisões políticas do nosso país.
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